O fogo não dorme. Há estradas cortadas na zona de Monchique
Chamas continuam a ameaçar bens e equipamentos, com ventos fortes a complicar ação dos bombeiros. Habitantes de aldeia de Silves em sobressalto
O incêndio de Monchique prossegue com duas grandes frentes ativas e, com o vento forte que se faz sentir, as chamas avançam e obrigam ao corte de estradas e à proteção de equipamentos como torres de antenas de comunicações no lugar de Fóia, no concelho algarvio. O trânsito foi cortado em diversos pontos da Estrada Nacional (EN) 266, junto a Monchique, e a EN 267, que liga Portimão àquela cidade, onde lavra um incêndio há cinco dias, foi também interdita à circulação.
Segundo fonte do comando-geral da GNR, o trânsito foi cortado em vários locais da EN266, nomeadamente na Nave Redonda, na Fóia e em Monchique e na EN267, na zona de Monchique, devido ao incêndio que continua a lavrar e que já alastrou aos concelhos de Silves e de Portimão, também no distrito de Faro, tendo destruído casas e muitas viaturas.
Há 29 feridos ligeiros e um ferido grave, com prognóstico favorável. Segundo o Sistema de Emergência da União Europeia, nestes cinco dias arderam já cerca de 17 mil hectares.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Patrícia Gaspar, segundo comandante nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) que assumiu o comando das operações, já disse que hoje deverá haver uma intervenção mais robusta nas duas frentes, em Fóias e junto a Silves, para tentar travar o fogo.
População em sobressalto
Se em Portimão a situação parace mais calma e com menos risco, em Silves ainda se teme o avanço do fogo. A população da localidade do Falacho, que acordou em sobressalto, cercada por chamas, teme hoje passar mais uma noite agitada devido a possíveis reacendimentos.
No domingo passado à noite, a localidade foi evacuada e várias dezenas de pessoas foram acolhidas em escolas e no quartel dos bombeiros de Silves, um dos concelhos no distrito de Faro afetados pelo incêndio que deflagrou em Monchique.
"Estávamos em prevenção desde domingo à noite porque o fogo estava próximo. Na segunda-feira estava tudo calmo até perto das 00:00. Estava a dormir e foi uma vizinha acompanhada pela GNR que me acordou, tudo aconteceu pouco passava das 02:30", contou Anabela Guerreiro à Lusa.
A residente no Falacho relatou que, cerca das 03:00, "estava toda a gente na rua", com "vizinhos aos gritos" e "bombeiros por todo o lado", ao mesmo tempo que o ar de tornava "insuportável". "Levaram daqui a maior parte das pessoas, mas nós ficámos, a minha mãe vive aqui ao lado e eu não podia ir, mais pessoas ficaram, a GNR permitiu", referiu.
Na terça-feira, ao final do dia, a Lusa constatou um cenário devastador, com uma colina pintada por um manto negro que se estendia até poucos metros das primeiras habitações da povoação, situada a cerca de dois quilómetros de Silves.
"Havia fogo por todo o lado e em diferentes montes. No Falacho ficou tudo queimado aqui à volta, pelo menos uma casa ardeu, mas valeu-nos a intervenção dos bombeiros, do exército e da GNR, não havia meios aéreos. Não ardeu mais porque nós mantemos tudo limpinho", acrescentou.
Maria José, proprietária de uma segunda habitação no Falacho também não esconde a sua preocupação e não tem arredado pé desta localidade nos últimos dias.
"Desde domingo que o fogo vai e vem e pode voltar a qualquer altura, só hoje já reacendeu três vezes e com chamas enormes. Parece que estava tudo calmo e de repente volta a acordar outra vez. Nunca sabemos", desabafou.
Com Lusa