Expectativa vs realidade: o que (não) aconteceu na manifestação dos coletes amarelos
Ponte 25 de Abril, ponte Vasco da Gama, rotunda dos Golfinhos em Setúbal, Açores ou Madeira. Estes são apenas alguns dos locais em que a manifestação dos coletes amarelos, agendada para esta sexta-feira, falhou redondamente. Apenas Braga, Porto e Lisboa tiveram maior expressão, embora sem impacto.
O "Movimento Vamos Para Portugal como Forma de Protesto" fica marcado pela pouca expressão que teve. A convicção seria que milhares de pessoas (tendo em conta o número de seguidores na página de Facebook Movimento Coletes Amarelos de Portugal - mais de 6 mil) se unissem nas ruas para reivindicar o aumento dos salários mínimos nacionais, o combate à corrupção, bem como a redução dos impostos na eletricidade. No entanto, os coletes amarelos portugueses, que se inspiraram nos movimentos contestatários de França, não conseguiram replicar o impacto que estes tiveram há umas semanas.
O contingente policial preparou-se e espalhou-se por 17 cidades portuguesas. Pelas oito horas da manhã - 60 minutos depois da hora marcada para o início do protesto - começava a confirmar-se e a revelar-se a diferença entre o aparato das autoridades e o número de manifestantes em alguns locais.
Pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, Grande Lisboa
Nas pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, por exemplo, havia polícia nos dois sentidos, sendo que não estavam quaisquer indivíduos a protestar. Nem dentro, nem fora dos carros.
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Assembleia da República e Palácio de Belém, Lisboa
Eram dois dos locais onde estava previsto haver protestos. Até agora, cinco horas depois do início das manifestações, não se vislumbram coletes amarelos nas redondezas.
Rotunda do Marquês de Pombal, Lisboa
No Marquês de Pombal estavam pouco mais de uma centena de pessoas e, ainda assim, foi onde se registou maior agitação dos manifestantes. A Polícia de Intervenção foi chamada ao local, depois de alguns manifestantes tentarem condicionar o trânsito, paralisando nas passadeiras e obstruindo a rotunda lisboeta. Algumas das vias chegaram mesmo a ser cortadas, ainda que por breves instantes.
Depois dos coletes amarelos tentarem romper o cordão policial, três pessoas foram detidas pela PSP, por desobediência e resistência à autoridade. Ao que o DN apurou, um dos detidos é membro do PNR. O Partido Nacional Renovador estava representado também pelo líder José Pinto Coelho.
Joaquim Alves chega ao Marquês pouco depois dos confrontos. Veste um colete amarelo e faz-se anunciar com um altifalante, que usa para dizer ao que vem: "Estamos aqui para lutar pelos nosso direitos". "Isto é contra a corrupção; é contra tudo. Isto está tudo mal. A malta vem toda para aí porque eles compram carros de milhões e nós andamos com camiões de lixo de há 40 anos atrás, sem condições de trabalho", diz ao DN o cantoneiro de lixo da Câmara Municipal de Lisboa.
Mas nem todos os que se deslocam à rotunda lisboeta juntam a sua voz à dos protestos. O pintor e empresário Frederico Morim, de 50 anos, veio de propósito da Ericeira para assistir à manifestação. Também está insatisfeito com o seu país, que teve de deixar durante 20 anos por não conseguir arranjar trabalho, mas não se revê no movimento. "Coletes são para os franceses, nós temos é de ter tomates. Os coletes nasceram noutra realidade. Está tudo mal planeado, nem diz ao que é que vem. Só dizem "vamos parar o país". Não se pára um país assim. Pára-se com coisas preparadas, con intenções".
Autoestrada A8
Na Autoestrada 8 (sentido Torres Vedras-Lisboa), um dos locais também identificados pela PSP, houve apenas algumas buzinadelas dos manifestantes que por ali passaram em direção ao Marquês de Pombal.
Faro
Em Faro, pouco mais de 100 manifestantes reclamaram pacificamente por "combustível mais baixo", "aumento do salário mínimo" ou "IVA mais baixo". A polícia não registou qualquer incidente com estes manifestantes.
Setúbal
Em Setúbal, houve excesso de polícia nos locais previstos - rotunda dos Golfinhos - visto que por ali não se avistaram quaisquer manifestantes. Bastava haver um polícia para ser um a mais que os manifestantes.
Leiria
Outra das cidades com forte policiamento. Os ânimos exaltaram-se junto ao Estádio Dr. Magalhães Pessoa, mas não houve qualquer distúrbio anotado pela polícia. A manifestação foi acompanhada por um dispositivo policial preparado para resolver os constrangimentos de trânsito, originados pela ocupação dos manifestantes nas passadeiras da cidade.
Ainda houve uma tentativa de parar os autocarros, mas sem resultado.
Braga
Era um dos pontos do país onde a polícia estava mais atenta. E, de facto, essa preocupação tinha razão de ser, pelo menos por comparação com outros locais. Centenas de pessoas mobilizaram-se nas ruas e chegaram mesmo a registar-se alguns desacatos: pontapés e garrafas contra viaturas que tentaram furar o bloqueio. Depois disso, de acordo com a agência Lusa, a manifestação decorreu pacificamente.
Chegaram ainda assim a cortar todas as entradas no norte da cidade. Segundo constatou a agência Lusa no local, alguns destes coletes amarelos deram pontapés e atiraram garrafas a viaturas que tentaram furar o bloqueio.
Apesar do bloqueio com pesados e ligeiros, existiu sempre no local uma "faixa de segurança na via" para a passagem de viaturas de emergência.
Porto
Tal como em Braga, foi no Porto que mais gente se juntou aos protestos.
O dia começou no no Nó de Francos. Havia muita polícia para cerca de 50 manifestantes. Mas o número foi aumentando e a manifestação engrossando. O nó de Francos esteve cortado, com as pessoas a atravessarem as passadeiras e parando para complicar a circulação.
Ainda assim, oito pessoas foram identificadas pela polícia por "apresentarem tarjas ofensivas e demonstrarem uma postura agressiva". Um destes elementos chegou mesmo a ser levado para a esquadra, para verificação, por vestir um colete à prova de bala.
Depois seguiram para a rotunda da Boavista. Os cerca de 150 manifestantes fizeram uma marcha pela cidade invicta, sendo sempre acompanhados pela polícia.
Coimbra
A rotunda Casa de Sal e do Almegue, em Coimbra, replicaram o que acontecia no resto do país: havia mais polícia que coletes amarelos. As três dezenas de pessoas que se reuniram na cidade conseguiram apenas parar o trânsito por breves instantes.
Viseu
O Jornal do Centro escreve que em Viseu reuniram-se cerca de 20 pessoas, que exibiram cartazes como "há uma linha que separa viver de sobreviver". Ao que tudo indica, o protesto em Viseu é para permanecer durante todo o dia. Aliás, é isso que garante o porta-voz Hugo Moreira, que garante que os protestos vão prolongar-se até à meia-noite.
Quase sem expressão ou mesmo sem ninguém
Évora, Santarém, Guarda, Bragança, Viana do Castelo, Castelo Branco, Aveiro, Madeira e Açores foram as cidades com manifestações mais tímidas ou até mesmo nulas.