Um imenso abraço às aldeias da Beira

Relembrei há dias nas páginas do Jornal do Fundão que com a criação do projeto "Interioridades" o Jornal do Fundão assumiu como grande objetivo valorizar as pequenas comunidades beirãs, geralmente afastadas dos holofotes dos media e do poder. Quisemos abraçar de uma forma permanente as aldeias que povoam o nosso território, esses lugares habitados por gente extraordinária, onde tantas vezes vamos buscar a sabedoria e a compreensão sobre o que nos rodeia. Desde 2016 que se pretende levar este abraço partilhado para onde mais se sente o severo embate do despovoamento. Lá, onde o sopro da ausência e da saudade se sente de uma forma mais intensa.

O "Interioridades", criado sob o lema "a palavra e o pensamento de proximidade", é o reconhecimento destes territórios e de toda a riqueza que neles habita, levando-nos a olhar para além da espuma dos dias, dos lamentos e das supostas fatalidades que assolam os discursos sempre que se fala do Interior. Levámos a cada uma das aldeias que já integraram este roteiro, especialistas das mais diversas áreas diretamente ligadas à vivência nestas comunidades e que ajudaram a apontar novos caminhos para a afirmação e desenvolvimento das aldeias beirãs. Acontecimentos que se traduziram em momentos de grande partilha e proximidade. Em capelas ou em pequenas associações, a palavra e o pensamento de proximidade tomaram, desde o primeiro dia, lugar nos espaços que cada comunidade podia disponibilizar. Modestos em dimensão, mas sempre cheios de pessoas com vontade de questionar, de aprender, de ensinar, de partilhar...

Este projeto trata-se de uma manifestação reiterada, de um sublinhar do "amor à terra mãe", com que o Jornal do Fundão se comprometeu logo no primeiro editorial, escrito pela mão de António Paulouro, em janeiro de 1946. Também por isso, este projeto é uma das felizes conquistas da já longa história deste título, que tem no seu ADN a indomável vontade de valorizar as gentes e os territórios da Beira Interior.

Os recursos são limitados, como sabemos, mas há projetos em que vale a pena empenhar o nosso esforço porque acrescentam algo; porque contribuem, nem que seja marginalmente, para melhorar o bem-estar e a autoestima de uma comunidade; porque abrem novas perspetivas para o nosso futuro comum ou porque, simplesmente, dão uma saudável visibilidade ao que está oculto.

No dia 1 de abril irá cumprir-se a sexta etapa desta viagem do Interioridades, rumando a Lavacolhos, a aldeia que tem o coração a bater ao ritmo dos famosos bombos. Trata-se, demograficamente, de uma das mais pequenas freguesias do concelho do Fundão, mas, como tantas outras, é plena de tradições, de saberes que se derramam por entre dias preenchidos, tantas vezes, por dificuldades. É aí que fará todo o sentido abordar a questão das "Aldeias Identitárias". É aí que também fará todo o sentido percorrer demoradamente com o olhar a imensa serrania que rodeia a aldeia, por onde ecoa o som de um dos mais emblemáticos patrimónios culturais não só da região, mas deste país - os Bombos de Lavacolhos.

Será precisamente na Casa do Bombo, e ainda antes ribombar dos bombos tomar conta das ruas da aldeia, que decorrerá esta nova iniciativa de partilha. Como sempre, olhos nos olhos com a comunidade; uma aldeia orgulhosa de tudo o que guarda nos compêndios da sua história coletiva. E será aqui que, estou certo, se tecerão novos fios de esperança.


Diretor do Jornal do Fundão

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