Transição energética, tempo perdido e ritmo lento

Desperdiçámos décadas a perceber que o aquecimento global era um problema sério. As alterações que devíamos ter introduzido para travar o aquecimento global foram sendo adiadas. A principal razão radicou na resistência política dos partidos do centro que governaram - e governam - os países ocidentais, os quais dominaram a economia mundial até recente data. O centro político pactuou com as poderosas companhias energéticas de recursos fósseis, que entendiam que o ritmo da transição energética devia ser "natural", i.e., primeiro esgotam-se as fontes de energias atuais - carvão, petróleo, gás natural - e só na fase final das reservas destas se reforça o investimento a sério nas energias renováveis. Quando começou a ficar claro que o aquecimento global implicava alterações climáticas trágicas, a resistência dos partidos do centro levou ao aparecimento de partidos verdes. Quando o crescimento destes ameaçou a hegemonia política dos partidos do centro - tendo mesmo chegado ao poder em vários estados europeus - se passou a encarar de forma séria o aquecimento global e as alterações climáticas dele decorrentes.

Atualmente temos na Europa um empenho político na transição energética para as zero emissões de gases com efeitos de estufa (GEE) em 2050. Nos EUA temos um presidente com boas intenções ("no more drilling", "no new fracking", slogans durante campanhas eleitorais várias), mas, não obstante a recente aprovação do Inflation Reduction Act, o Congresso é dominado por políticos sem empenho na adoção de medidas para fazer frente às alterações climáticas. Os lóbis de energias tradicionais são poderosos, financeiramente robustos e muitos congressistas assumiram compromissos anti-restrições à produção de emissões de GEE. Muitos países em desenvolvimento não aceitam o ritmo de redução de GEE que os países ocidentais propõem. Em boa medida porque não têm forma de garantir energia necessária para o seu processo de desenvolvimento. E também porque consideram injusto que, agora que estão a conseguir melhorar as condições de vida de parte significativa das suas populações, lhes sejam impostas restrições energéticas. Apesar de muitas promessas e esforços dos governos para combater as causas do aquecimento global, as emissões de CO2 da energia e da indústria aumentaram 60% desde a assinatura da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, em 1992.

"Atualmente temos na Europa um empenho político na transição energética para as zero emissões de gases com efeitos de estufa (GEE) em 2050."

Na COP27, a decorrer no Egito, volta a ser claro esse desencontro de opiniões. Países como a China e a Índia, aliás, já o afirmaram expressamente. No World Energy Outlook 2022 da Agência Internacional de Energia (IEA) e nos relatórios da IEA sobre Net Zero by 2050 reconhece-se que "os compromissos e ações globais estão a crescer, mas ainda ficam muito aquém do necessário para limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5ºC e evitar os piores efeitos das alterações climáticas". Embora se lá afirme que "o caminho [para limitar o aquecimento global a 1,5 °C] é estreito, mas exequível", os dados disponíveis quanto à execução, nos últimos anos, e as preocupações reforçadas com a segurança energética não permitem grandes otimismos quanto ao cumprimento objetivo de, até 2050, reduzir a zero as emissões de CO2 que neste momento são ainda de 37 gigatoneladas por ano.

Consultor financeiro e business developer
www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG