Pode a Tecnologia aproximar os mais jovens da realidade?

À medida que os dispositivos móveis fazem cada vez mais parte, e cada vez mais cedo, da vida das crianças e jovens, às preocupações com o seu impacto negativo soma-se o potencial que as novas tecnologias apresentam, quando aliadas à Cultura, à criatividade e à Arte, de afastá-los dos ecrãs e aproximá-los da realidade, das pessoas e do mundo que os rodeia.

A designada "geração mobile" tem, literalmente, a tecnologia na ponta dos dedos. De acordo com um estudo conjunto da Geração Cordão e da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 82% dos jovens tem acesso às tecnologias no quarto à noite, com mais de metade a usá-las até adormecer.

Situações como o uso excessivo dos dispositivos móveis, aliadas aos múltiplos perigos que se escondem online, têm levantado importantes debates sobre a necessidade de promover a educação digital junto de pais e filhos, de modo a promover o uso mais responsável e positivo das novas tecnologias.

Mas e se for a própria tecnologia a conseguir afastar-nos dos ecrãs e a aproximar-nos da realidade? Se conseguirmos usá-la para levar os mais jovens a sair de casa e explorarem o mundo que os rodeia?

A Arte e a Cultura sempre desempenharam um papel fundamental na formação humana. E da mesma forma que a tecnologia impactou as novas gerações, também permeou e influenciou o universo cultural, democratizando a Arte e possibilitando que esta chegasse a um público cada vez mais amplo. Isto significa que, através da introdução da tecnologia na Arte e da crescente introdução da Arte no universo digital, cada vez mais jovens têm acesso a experiências culturais e ao seu impacto positivo ao nível do desenvolvimento e do questionamento do mundo que os rodeia.

Essa crescente hibridização da Arte também assume efeitos positivos, por exemplo, ao nível do humor, como evidenciado pelo estudo "VisualEars: How an immersive art exhibit impacts mood during the COVID-19 pandemic". Esta investigação expôs os participantes a experiências artísticas virtuais durante a pandemia de COVID-19, observando o seu impacto no aumento dos indicadores positivos e na diminuição dos indicadores negativos numa audiência generalizada, com resultados particularmente positivos junto dos jovens. Os autores estimam que os melhores resultados obtidos junto desta faixa etária se prendam com o aspeto tecnológico da experiência.

As iniciativas culturaisimersivas, quando intencionalmente articuladas com o património, e pela sua ligação à tecnologia, possuem o potencial não só de atrair um público mais jovem para atividades culturais e expô-lo aos seus benefícios, como de convidar os mais novos e as suas famílias a saírem de casa, de se relacionarem, de vivenciarem e ocuparem espaços reais, de uma forma totalmente nova e impactante, promovendo uma relação mais estreita, profunda e marcante com o ambiente em que se inserem.

A intencionalidade na conexão aos espaços históricos, a qualidade dos temas e dos conteúdos utilizados, assim como a criatividade na forma como as experiências imersivas são construídas, serão determinantes para o seu impacto positivo, para a sua capacidade de atração de novos públicos e para a promoção da ligação dos mais novos às suas cidades e monumentos.

A aventura imersiva "Alice in Magical Garden", por exemplo, promoveu a aproximação de mais de 70 000 pessoas, na sua maioria jovens e crianças, ao património de biodiversidade e conhecimento do Jardim Botânico do Porto e da Galeria da Biodiversidade da Universidade do Porto. O Reservatório da Mãe D"Água das Amoreiras, palco da Immersivus Gallery Lisboa, que acolhe iniciativas como "Frida Kahlo, a Biografia Imersiva", entre outras, já recebeu mais 150 000 pessoas. Na Alfândega do Porto, onde se situa a Immersivus Gallery Porto, dezenas de crianças de escolas do distrito já puderam visitar o mergulho imersivo na história do "Misterioso Egito", naquele que foi considerado o Melhor Museu de Portugal pelos Remarkable Venue Awards.

A mesma tecnologia que nos absorve em frente a um ecrã pode afastar-nos dele, conforme nos recorda a premissa da emergente sociedade 5.0. A tecnologia pode e deve ser usada ao serviço das pessoas, proporcionando-lhes uma maior qualidade de vida, uma maior disponibilidade para contactarem umas com as outras, e a oportunidade de investirem tempo no que realmente importa, levando-as para fora de casa e para perto umas das outras, num movimento virtuoso, e não virtual, onde juntos criamos um futuro melhor para todos.

Produtor Executivo da OCUBO

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