Para onde vai a economia dos EUA em 2023?
Quando a inflação começou a subir em 2021, a maioria dos bancos centrais e economistas não estava preocupada, as economias ocidentais tinham evitado a inflação na última década e o aumento estava intimamente ligado ao impacto da COVID. Os governos tinham fechado as economias e era normal que os preços tivessem aumentado à medida que as economias saíssem de seus "comas induzidos", mas pensavam que qualquer aumento de preços fosse transitório.
A notícia económica mais significativa de 2022 foi que se enganaram, a inflação não recuou, apenas cresceu, atingindo nos EUA, a maior economia do mundo, um pico de 9,1% em junho de 2022, muito para além do que se imaginava alguns meses antes. A Reserva Federal dos EUA não anteviu isso e para além de manter as taxas de juro próximas de zero, ainda injetou dinheiro na economia por meio da compra de milhares de milhões de dólares em títulos até ao final primeiro trimestre de 2022. Só em março de 2022 reconheceu tardiamente o erro e passou a aplicar sua principal ferramenta de combate à inflação, elevando os juros para desacelerar a procura, reduzindo assim a pressão sobre os preços. A Fed iniciou essa mudança de política modestamente, elevando as taxas de juro em 0,25% em março, seguida de um aumento de 0,50% em maio, para travar seriamente economia a partir de junho, com o primeiro dos quatro aumentos de 0,75% cada, seguido pelo último dos sete aumentos em 2022, de 0,50% em dezembro, para atingir um nível de 4,25% a 4,50% para empréstimos overnight, o mais elevado nos últimos 15 anos. E informou que espera manter os juros altos pelo menos até 2024.
Será que esses movimentos, os mais agressivos desde a década de 1980, levarão a economia dos EUA a uma recessão, possivelmente severa, em 2023? Powell, o presidente da Fed, disse: "Ninguém sabe se este processo leva a uma recessão ou, em caso afirmativo, quão significativa será essa recessão. Temos que ultrapassar a inflação. Eu gostaria que houvesse uma maneira de o fazer sem dor. Não há."
É claro que o aumento das taxas de juro desacelerará a economia dos EUA em 2023, mas quanto será necessário para dominar a inflação, por quanto tempo a Fed manterá as taxas de juros altas; será que haverá uma recessão e, em caso afirmativo, quão severa? As Nações Unidas preveem uma recessão nos EUA com uma forte probabilidade, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais otimista, prevendo que a Reserva Federal consiga fazer uma "aterragem suave", reduzindo a inflação sem criar nada pior do que uma possível "ligeira recessão". A Câmara de Comércio dos EUA estima que a inflação atual de 5 a 6% reduza para perto do objetivo de 2% da Reserva Federal até ao final de 2023, dando-lhe a liberdade de reduzir as taxas de juro rapidamente no início de 2024.
A Reserva Federal tem um mandato duplo: manter os preços estáveis e maximizar o emprego - isso em claro contraste com o Banco Central Europeu, que tem apenas o mandato de manter os preços estáveis - pelo que a Fed procura minimizar o impacto negativo sobre o emprego do aumento das taxas de juro.
A decisão da Reserva Federal de 1 de fevereiro de aumentar as taxas de juro em apenas 0,25% reflete essa preocupação e sinaliza uma mudança parcial na sua posição, reconhece que o forte medicamento está a funcionar, o índice de inflação utilizado caiu para 5% em dezembro, mas ainda é muito superior à meta da inflação de 2% da Fed. O presidente Powell referiu que provavelmente haverá mais dois aumentos das taxas de juro em 2023: "Vamos manter o curso até que o trabalho seja concluído".
Wall Street acha que a inflação continuará a descer rapidamente, com uma probabilidade crescente de que a Fed comece a recuar e a reduzir as taxas de juro antes do final de 2023. Tendo a Fed subestimado o aumento da inflação em 2021 e 2022, acredito que a Reserva Federal continuará a manter as taxas de juro elevadas, e até a aumentá-las, até ter a certeza absoluta de que dominou a inflação, e penso que isso significará uma descida nas taxas de juro provavelmente não antes de meados 2024. A minha opinião é parcialmente influenciada pelas boas notícias recentes sobre a pujança da economia dos EUA, por exemplo, que a economia dos EUA teve uma taxa de crescimento anualizada mais alta do que o esperado, de 2,9% no 4º trimestre de 2022 e a resistência contínua do mercado de trabalho (a última notícia é que havia 11 milhões de postos de trabalho disponíveis, um milhão a mais do que o esperado), uma economia robusta neste caso significa pressão inflacionária contínua, uma notícia tão boa que na verdade é uma má notícia em termos de probabilidade de que a Fed deixará de fazer pressão para desacelerar a economia.
O momento em que será tomada a decisão futura sobre a redução das taxas de juros da Fed é crítico, particularmente em termos políticos. Os Democratas esperam desesperadamente que a Fed reduza drasticamente as taxas de juro durante 2024, deixando-os com uma economia florescente nas eleições presidenciais de novembro de 2024, enquanto que os Republicanos, preferem claramente o cenário em que a economia está em recessão na data das eleições, com o impacto de taxas de juro mais baixas adiado para 2025. Independentemente de como a Fed se mova, será sempre acusada de fazer política por qualquer uma das partes.
Um de uma série de artigos sobre politica, economia e sociedade dos EUA. Artigos anteriores e outros comentários em inglês disponíveis no website: http://rendezvouswithamerica.com
Autor de "Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Election System", Presidente do American Club of Lisbon. Opiniões aqui expressas são pessoais e não vinculam o American Club of Lisbon.