A opção Noruega é a melhor para o Reino Unido

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A situação do Reino Unido é confusa, mas o caminho a seguir não o é. Há, de facto, poucas opções por onde escolher. A mais sensata é a pertença ao Espaço Económico Europeu, também conhecida como a opção Noruega. Esta dá aos países o pleno acesso ao mercado único europeu, embora não tenham voz na política da União Europeia (UE).

É o melhor que os antigos apoiantes da permanência na UE podem esperar. Muitos deles apadrinham a ideia de um novo referendo. Não consigo imaginar nenhuma outra medida que desse origem a mais acrimónia, divisão e danos económicos do que uma decisão de ignorar uma votação democrática. Os defensores da permanência ainda estão presos na segunda das cinco fases do luto: a fase da raiva. A primeira fase é a negação, que era onde eles estavam durante a campanha: estavam em negação da possibilidade de que o outro lado pudesse vencer; e do desastre político da campanha do Projeto Medo.

A opção Noruega é também o caminho político mais realista para os moderados entre os antigos defensores da saída. É o único que poderão ser capazes de apresentar sem destruir os seus partidos já divididos.

O EEE tem um grande número de vantagens técnicas. A primeira é a sua existência. Não precisa de ser inventado. Existem projetos de tratados. A UE não pode realmente negar ao Reino Unido esta opção; seria um ato hostil se o fizesse.

Seria a menos prejudicial para a economia britânica e a que melhor minimizaria os custos de transição do brexit. Nenhuma empresa britânica teria de deixar a Europa. Nenhuma firma da City teria de transferir funcionários para Dublin ou Paris. A City de Londres iria manter o seu passaporte da UE, a capacidade de fazer negócios em toda a União a partir de Londres. A opção Noruega é economicamente a mais benigna de todas. Em termos económicos é praticamente neutra.

Além disso, reduziria o apetite da Escócia por outro referendo sobre a independência. Esse desejo pode ser atenuado se a UE deixar claro para a Escócia, como eu espero que faça, que, se fosse independente, teria de solicitar a adesão ao abrigo do artigo 49 do Tratado de Lisboa. Isso significa que não iria herdar qualquer das opções de exclusão do Reino Unido. Nomeadamente, esperar-se-ia que a Escócia aderisse à zona euro.

A opção Noruega também tem desvantagens. Comprometeria várias mensagens--chave da campanha pela saída. Ela não permitiria que o Reino Unido reduzisse a livre circulação de trabalhadores da UE. O país continuaria a contribuir para o orçamento da UE. Os míticos 350 milhões de libras por semana não estariam disponíveis para gastar com o Serviço Nacional de Saúde.

Se um novo primeiro-ministro quisesse manter essas promessas de campanha, ele ou ela teria de negociar um acordo de comércio bilateral em vez de aderir ao EEE. Não haveria passaporte único para a City. O impacto económico seria maior. Mas é a solução, se a prioridade for sair da UE e deitar fora a chave que pudesse desbloquear um potencial regresso futuro.

Seja qual for a escolha, poderá ser imposto um limite de tempo - digamos, 10 anos. Com a aproximação do fim desse período, o Reino Unido poderia decidir, por referendo ou votação parlamentar, se quer manter o acordo indefinidamente, optar por sair do EEE e procurar um acordo comercial bilateral, optar por voltar à adesão plena à UE ao abrigo do artigo 49 ou regressar à UE sob outra forma, como a de membro associado, que possa vir a existir até então.

Para que isto possa funcionar, a rapidez é importante. Fiquei aliviado ao saber que o partido conservador antecipou a eleição da nova liderança para o início de setembro. O novo governo deve, em seguida, acionar o procedimento de saída nos termos do artigo 50 o mais rapidamente possível. Se se realizassem eleições teria de haver mais um pequeno atraso. Mas seria do interesse do Reino Unido não arrastar o processo desnecessariamente. Quanto mais tempo durar a incerteza, maior o impacto económico.

Além disso, pensemos por um momento no efeito sobre outros Estados membros. O brexit aumentou drasticamente a probabilidade de uma vitória para Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, de extrema-direita, nas eleições presidenciais francesas do próximo ano. Se ela ganhar, deixará de haver grande coisa na UE para abandonar.

Uma opção Noruega limitada no tempo, mas com um acordo rápido, respeitaria a vontade dos eleitores, a realidade política no Reino Unido e na União Europeia, revelar-se-ia economicamente menos cara e é flexível. Não é o melhor de todos os mundos, de maneira nenhuma. Antes do referendo havia um amplo consenso de que não faz realmente muito sentido sair da UE a fim de aderir ao EEE. Mas se existe arrependimento agora ou se se procura um acordo de transição para um novo regime, esta é a melhor opção que existe.

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