O doutor Rui Rio é um homem sério

Foi a frase que mais ouvi ontem de manhã no Fórum TSF. Manuel Acácio, o jornalista que há mais tempo conduz aquela balança diária, colocou nos pratos estas perguntas: "Que balanço faz dos dez meses da liderança de Rui Rio? Concorda com a acusação de que existe uma campanha interna de ataque ao líder? O PSD tem-se assumido como o principal partido da oposição?".

As respostas, dos ouvintes que declaravam apoio ao atual líder do PSD, assentavam todas na mesma base: "O doutor Rui Rio é um homem sério!". Alguns introduziam uma ligeira variante: "O doutor Rui Rio é um político sério".

Ora, a questão é que ser "sério" é condição necessária, mas não suficiente para ser político, líder partidário e, mais relevante para o caso, líder do maior partido da oposição.

Respondendo às perguntas de Manuel Acácio... Ao fim de dez meses, o balanço é negativo. Sim, existe uma campanha interna de ataque ao líder e tem dias em que o PSD se assume como o principal partido da oposição, noutros nem por isso.

O problema de Rui Rio - que é um problema do sistema, porque um PSD forte na oposição é essencial ao bom funcionamento da nossa democracia - tem duas frentes que se alimentam uma à outra. Há um défice de afirmação política da atual direção que encoraja a guerrilha interna - não é a sua razão de existir, mas facilita-lhe o trabalho -; guerrilha interna que, por sua vez, perturba qualquer tentativa de afirmação de uma agenda alternativa à do governo.

Será que esta pescada de rabo na boca também cresce devido a um problema de comunicação, como era sugerido no arranque do debate de ontem no Fórum TSF? Não será por aí, mas ajuda.

Não se pode comunicar o que não existe. O PSD, entretido que anda em guerras autofágicas, tem estado ausente dos grandes debates. A batalha diária contra as presistentes quebras de lealdade gasta muita energia. O PSD tem estado presente nos casos - por muito que Rui Rio insista que não quer alinhar numa política de casos - mas não se lhe conhece um projeto coerente para o país, uma alternativa à devolução de rendimentos e otimismo socialistas.

E não é que não haja assunto. Há sinais insistentes de abrandamento das principais economias europeias e os tradicionais mercados para as nossas exportações estão a desacelerar. Há economistas que começam a ler nesses sinais uma inversão de ciclo, de uma aproximação de tempos de recessão. O desgoverno em que vai caminhando o Brexit e a crise à roda do orçamento italiano antecipam instabilidade, garantem incerteza. Internamente, começa a tornar-se claro que a aposta no consumo das famílias e no turismo é curta para garantir um crescimento sustentável e o país está hoje apenas vagamente mais bem preparado para lidar com um choque externo do que estava entre 2009 e 2011.

Perante isto, o PSD tem apontado um caminho alternativo? Nem por isso. Para lá dos casos Silvano ou Feliciano e da gestão quotidiana de outros casos, sempre feita de forma envergonhada porque contrária à doutrina do líder, estamos aqui, dez meses passados sobre a eleição de Rui Rio, sem saber o que o PSD quer para o país.

Talvez ajudasse que as reuniões com militantes - há várias nos próximos dias - corressem à porta aberta. Já sabemos que o ambiente interno não é o melhor, que o partido está rasgado ao meio entre rioistas e passistas - meio partido suspira de saudade por Passos Coelho -, pelo que Rui Rio só teria a ganhar em mostrar ao país como está a lidar com o problema.

Pedia-se uma prova de vida, uma prova de liderança e ela tarda. Passada a aprovação do OE2019, o país político entra em campanha eleitoral - a pré-campanha já dura há meses - e se daqui até às europeias de 26 de maio o PSD não dizer ao que vem, se não tornar claro que Portugal imagina para lá da governação da esquerda, pode preparar-se para um resultado histórico, para uma ou duas derrotas históricas, em maio e outubro.

Dir-me-ão os do outro lado da barricada que não vem mal nenhum ao mundo com essas derrotas, que a esquerda só terá a ganhar com o desfiar de um dos grandes partidos do centro político. Pois, enquanto vão pensando em aproveitar a onda nas eleições de 2019, recomendo que olhem com atenção para os movimentos e partidos que estão a nascer no centro-direita. Há por ali ideias e pessoas muito pouco recomendáveis.

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