Os Estados Unidos e os desafios globais
A eleição de Donald Trump foi o facto mais surpreendente do ano político internacional. É certo que outros desenvolvimentos se aproximaram dessa duvidosa honra (como o triunfo do brexit, por exemplo). No entanto, a vitória de Trump é o evento que trará consequências mais decisivas para o mundo nos próximos anos.
Como tem sido referido por muitos analistas, a presidência Trump significará para os Estados Unidos uma mudança relevante na condução da sua política externa. Esta mudança tem sido analisada sobretudo em termos políticos e estratégicos, mas terá também sérias implicações quando entendida à luz dos grandes desafios societais que se colocam ao mundo do século XXI.
Uma das áreas mais significativas é a das alterações climáticas. Ao contrário do que se verificou durante a administração Obama, a eleição de Donald Trump parece significar o triunfo das teses negacionistas, isto é, da negação de que o aquecimento global do planeta é fruto da atividade humana. Neste contexto, será fundamental perceber se a nova administração irá respeitar o Acordo de Paris, em relação ao qual Trump continua a afirmar publicamente que prefere manter todas as opções em aberto.
As migrações transnacionais e os problemas a elas associados, nomeadamente a questão dos refugiados, são outro dos grandes desafios internacionais. Neste ponto, as posições assumidas por Donald Trump durante a campanha eleitoral também não são tranquilizadoras e deixam antever que o novo inquilino da Casa Branca considera a imigração como uma ameaça à segurança e à economia norte--americana e que provavelmente irá nesta matéria proceder ao arrepio das recomendações das ONU.
Por fim, a questão do comércio global. Donald Trump manifestou--se por diversas vezes contra a liberalização excessiva do comércio internacional. Já depois de eleito, anunciou, entre as suas primeiras medidas, a suspensão do TPP e a renegociação do NAFTA. Nesta matéria, o aparente retraimento dos Estados Unidos abrirá a porta para uma posição ainda mais assertiva por parte da China no que diz respeito aos grandes fluxos mercantis internacionais.
São apenas três exemplos de áreas nas quais os Estados Unidos, enquanto grande potência internacional, têm responsabilidades inequívocas. A posição que a administração Trump assumir será, por conseguinte, decisiva, não apenas para os Estados Unidos, como para o mundo geral. E, verdade se diga, os indicadores de que dispomos neste início de 2017 não são particularmente tranquilizadores.