Um tweet de Ana Gomes indigno
A deputada europeia Ana Gomes escreveu, ontem, no Twitter: "CharlieHebdo - porquê insistir na representação do Profeta, que se sabe ofender os muçulmanos? Não estou de acordo. Não em meu nome." Falemos da citada representação do profeta, aquela que é hoje reproduzida na capa do semanário Charlie Hebdo: uma lágrima cai pelas barbas de Maomé. O desenho sugere que ele tem compaixão pelos mortos de há oito dias. Duas frases aparecem nessa capa: "Está tudo perdoado" e, num cartaz seguro por Maomé, "Eu sou Charlie." Quer dizer, em lugar algum da capa - nas palavras e no desenho - há irrisão, sarcasmo ou, até, ironia. Como se justifica, então, o tweet de Ana Gomes? Justifica-se por isto: para certos muçulmanos, a representação de Maomé - quer dizer, o simples desenho dele - está proibida. Em Riade, na capital da Arábia Saudita, um desenhador piedoso, daqueles capazes de pintar o olhar doloroso de Maria por ver o seu filho na cruz, tem interesse em não tentar desenhar um bom e comovido Maomé. Não precisa de ter o lápis afiado pela crítica, bastava tentar desenhar. Até agora era assim, em Riade. E continua a ser porque todos receiam ser vergastados por um simples desenho. Ana Gomes quer que esse medo chegue à Europa. Ontem, na Arábia Saudita, um influente clérigo lançou uma fatwa a quem faça bonecos de neve, porque "os bonecos de neve são anti-islâmicos". Quando virá o tweet de Ana Gomes contra os bonecos de neve?