Clima - Esperança num caminho que passa por Paris

Já assim foi com o Protocolo de Quioto de 1997 - marcaram-se metas e vários países desenvolvidos retiraram-se do compromisso de reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa causadoras do aquecimento global e consequentes alterações climáticas. Em 2009, um acordo global, precipitado no final da Cimeira em Copenhaga, falhou! Como será possível, agora em Paris, envolver os Estados Unidos, que assinaram mas não ratificaram Quioto, onde as palavras "legal" e "financeiro" e "compensação" pelos impactos tornam tudo mais difícil de avançar com um Congresso e um Senado hostis? Onde, por oposição, a União Europeia, que já foi mais unida e mesmo protagonista nas negociações climáticas, quer um acordo de compromissos vinculativos, verificáveis e ambiciosos? Ou uma Índia, que quer desenvolver muito as energias renováveis e melhorar a sua eficiência energética, mas aposta no carvão "verde" (uma tecnologia de captura e armazenamento de carbono que ainda não conseguiu ser bem-sucedida economicamente)? Ou a China, que tem sofrido uma transformação energética tremenda, mas que mantém dúvidas sobre a perda de importância da diferenciação dos países (desenvolvidos e em desenvolvimento), e acha que qualquer revisão do esforço de redução de emissões no futuro deve sempre ter esse aspeto em conta? Ou ainda as pretensões de muitos países africanos, que querem prioridade à adaptação ao clima em mudança e ao financiamento? O acordo está garantido - falta perceber qual será a sua "qualidade". A grande diferença em relação ao passado é que o Acordo de Paris foi à partida percebido como um momento, parte de um caminho que mudará a sua trajetória se não estiver a ter sucesso e não apenas uma meta a cumprir no tempo como em Quioto ou em Copenhaga. E neste momento, todos os países perceberam que um desaire sairá muito mais dispendioso para eles próprios e para o mundo...

Professor do CENSE-FCT da Universidade Nova de Lisboa

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