16 agosto 2013 às 01h00

A televisão, a ética e a receita

ANTÓNIO TADEIA

Uma das grandes novidades da época é a passagem dos jogos do Benfica em casa para a Benfica TV. Os benfiquistas aplaudiram, antes de perceberem que, a partir de agora, tinham de pagar mais para ver jogar a sua equipa de coração (em casa na Benfica TV, fora na Sport TV). Os observadores aplaudiram o que presumiam ser um final de um regime próximo do monopólio, mas a mim a questão causa-me urticária por várias razões. Éticas e comerciais.

Primeiro, as éticas. A partir do momento em que os canais dos clubes controlam os direitos de transmissão de jogos da Liga, que garantia temos de que a seleção e edição das imagens venham a ser feitas com a imparcialidade necessária para que sirvam de prova, por exemplo, em inquéritos disciplinares como o que castigou Insúa na época passada? Como é evidente: nenhuma! E a alteração vem assim criar uma situação clara de concorrência desleal que - espero enganar-me - ainda vai fazer correr muita tinta e motivar muita discussão acesa na TV esta época.

Depois, as comerciais. Permitir aos clubes que negoceiem os seus próprios direitos televisivos é, está provado, enfraquecer a posição global em favor da posição dos mais fortes. Há recomendações no sentido da centralização destes direitos de forma a que eles possam valer mais no seu todo e depois - e aqui está o busílis da questão -, a receita seja distribuída de forma mais equilibrada e com base no mérito.

A inexistência de mercado interno no futebol português e a falta de competitividade geral que daí advirá tem que ver com a descapitalização de todos os clubes que não os grandes e está intimamente ligada às diferenças abissais entre o que recebem, por exemplo, da televisão. Por todas estas razões, Ligas como a inglesa ou a alemã já controlam elas mesmas o que vendem aos consumidores de televisão. A Liga portuguesa perdeu-se no caminho.