Só menos dívida nos tira do lixo
O saldo é positivo: o desemprego está em mínimos históricos, a economia está a crescer próximo dos 3%, acima das expectativas, o défice mantém-se sob controlo e os juros de Portugal seguem em queda, à boleia das boas notícias. Costa tem razões para sorrir, ainda mais agora que até a mais dura das agências de rating que nos avaliam admite que no final do próximo ano o país pode finalmente sair do lixo. Claro que há condições para, ao fim de seis anos, essa mudança acontecer e o país voltar a estar cotado pelas agências como um dos que têm qualidade e oferecem segurança a quem quer investir - um passo que pode determinar o continuamente adiado regresso do investimento a Portugal. E aí é que é o diabo. Com a dívida pública a engordar continuamente, não há agência (à exceção da sempre benevolente canadiana DBRS) que não desconfie da capacidade de manter os restantes números em boa evolução. Há cinco semestres consecutivos que a dívida está acima dos 130% e em julho voltou a agravar-se, atingindo os 249,165 mil milhões de euros. Isto numa altura em que o governo começa a negociar bombons orçamentais para os partidos que lhe asseguram a maioria parlamentar, com PCP e Bloco a exigir que o executivo de António Costa vá muito mais longe no alívio fiscal, nos aumentos das pensões, no descongelamento de carreiras da função pública, nas leis laborais cada vez mais favoráveis aos trabalhadores. E também não é de desprezar a agitação crescente que, independentemente dos anúncios de conquistas de que a esquerda vai fazendo eco, começa a notar-se nas estruturas sindicais e em cada vez mais classes profissionais - dos professores à Autoeuropa, dos médicos às forças de segurança, dos enfermeiros aos juízes. Com outros engulhos ainda por resolver, como os incêndios, o roubo em Tancos ou as viagens a convite de empresas, a vida do governo será tudo menos fácil. Os números que temos são positivos, mas as boas notícias são circunstanciais. Portugal só sairá do lixo e voltará a atrair investimento quando a mudança for estrutural - e nisso a dívida do Estado é o indicador-chave.