Resultado de um grande trabalho conduzido ao longo de décadas, fortemente baseado na vacinação, Portugal anunciava há um par de anos as boas notícias transmitidas pela Organização Mundial da Saúde: o país conseguira a erradicação não apenas do sarampo mas de outras doenças altamente contagiosas e perigosas como a rubéola, a malária, a varíola e a poliomielite. Longe vão os tempos em que um diagnóstico de sarampo era encarado com a preocupação que nos merecem as doenças que matam. Mas talvez já não seja bem assim. No ano passado, o sarampo voltou a aparecer e a matar em Portugal - e se tomarmos a Europa como exemplo, os casos de sarampo registados alargam-se para 2573 (o quádruplo do ano anterior), com 35 casos mortais, todos eles de crianças não vacinadas. Neste início de ano, ouvimos falar em novos casos - são pelo menos sete confirmados e mais de 30 suspeitos - e não podemos deixar de nos surpreender com o ressurgimento de uma doença que aparentemente tinha sido erradicada. Acontece que, enquanto nos países africanos, por exemplo, se multiplicam as campanhas a apelar à vacinação para conseguir reduzir os números negros da mortalidade associada a doenças que por cá temos a sorte de não conhecer, pelo menos em toda a sua força, por toda a Europa tem-se assistido ao movimento contrário. A erradicação deste tipo de doenças parece ter gerado em certas comunidades a crença de que as vacinas não eram fundamentais - alguns indo ao extremo de as considerar mesmo tóxicas. E à falta de obrigatoriedade (só há oito países europeus onde é obrigatória a inoculação contra o sarampo, por exemplo), um número crescente de pais optaram por não vacinar os filhos. O resultado deste movimento está à vista, mas os seus efeitos podem agravar-se - basta ver que o sarampo é a doença mais infecciosa que se conhece (a média de contágio é de 90% das pessoas que entrem em contacto com alguém infetado) e está no top 3 das mais mortais da história da humanidade, logo a seguir ao VIH e à malária. Era importante que todos nos lembrássemos destes números.