O PS e a arte da sobrevivência
Recentemente assistimos a um périplo desesperado do PS para promover uma frente unida de esquerda numa candidatura à Câmara Municipal de Lisboa.
Depois de o Bloco anunciar a sua (que ainda assim se antecipa que não passe de uma lebre), o PCP anunciou agora o seu (tradicional) candidato à CML.
Isso desestabilizou o Partido Socialista, que sempre teve uma relação utilitária com o PCP. Em momentos de aperto, quando as sondagens tremem ou quando a direita ameaça consolidar poder, o PS recorda-se subitamente da sua “tradição de esquerda” e convoca a unidade progressista.
Porém, o histórico desta relação demonstra que, quando tem margem para governar sozinho, o PS dispensa o PCP sem hesitação e regressa ao seu lugar confortável no centro político.
Desde que Jorge Sampaio conseguiu, em 1989, construir uma coligação improvável entre o PS e o PCP para conquistar a Câmara Municipal de Lisboa, os socialistas têm oscilado entre dois caminhos: a tentativa de seduzir os comunistas para uma aliança estratégica; e a necessidade de manter um discurso moderado que não os afaste do centro político.
O resultado tem sido previsível: o PCP, fiel a si próprio, mantém a sua linha intransigente; o PS, sempre hesitante, nunca assume verdadeiramente uma política de esquerda.
O caso mais paradigmático desta relação foi a geringonça de 2015-2019, um momento em que o PS precisou do PCP para governar, mas recusou dar-lhe espaço político real.
O PS foi rápido a beneficiar da estabilidade proporcionada pelo PCP, mas apressou-se a descartar a aliança quando viu a oportunidade de governar sozinho, em 2019.
O resultado foi óbvio: o PCP pagou o preço eleitoral pelo apoio ao PS, enquanto os socialistas se apresentavam como os verdadeiros responsáveis pelo sucesso governativo.
Agora, em Lisboa, o enredo repete-se.
O PS destrata o PCP, ao mesmo tempo que apela à reaproximação, esperando que o PCP desenvolva “síndrome de Estocolmo”.
João Ferreira percebeu bem a armadilha. Ao responsabilizar o PS pela manutenção de Moedas na presidência da Câmara, está a recusar alinhar-se numa solução que apenas servirá de colchão ao tombo socialista.
Isto porque o PS não quer governar com o PCP, quer apenas o seu eleitorado.
E a verdade é que, ao contrário do que o PS tenta fazer crer, Lisboa não é uma cidade ingovernável sob a direita e o PS tenta convencer o eleitorado de que apenas ele pode travar a “ameaça da direita”. Mas que ameaça é essa, quando foi o PS que falhou na habitação, na gestão do espaço público e no equilíbrio entre turismo e qualidade de vida?
No final, o grande paradoxo destas eleições será este: o PCP poderá ser a tábua de salvação do PS, não para governar à esquerda, mas apenas para que os socialistas evitem um descalabro eleitoral, podendo depois culpar a coligação.
Presidente da Concelhia do PSD em Lisboa