O "frenesim da direita" e os cheques em branco!

Perante o descalabro da governação socialista compreende-se que Luís Montenegro, na sua qualidade de líder do maior partido da oposição, tenha pressa em conquistar ao poder. É o que António Costa classificou como o "frenesim da direita".

Convenhamos que este "frenesim da direita" se deve, sobretudo, à má actuação do governo do Partido Socialista. Apesar de ter recebido o instrumento mais precioso que existe em democracia - uma maioria absoluta para governar - António Costa desperdiçou essa oportunidade. Com as escolhas que fez para o governo, com as treze demissões governamentais que já soma no curto espaço de um ano de governação, com uma indevida utilização das instituições públicas, o primeiro-ministro dinamitou a confiança que os portugueses lhe conferiram com a oferta de bandeja de uma maioria absoluta depois da solução da geringonça ter chegado ao seu termo.

Percebe-se, assim, que os partidos da direita se agitem e reclamem a demissão do Governo.

Contudo, qualquer eventual mudança no centro da decisão política não implica que desapareçam, por milagre, as assimetrias que assombram a sociedade portuguesa. É vital que os partidos da oposição, muito em especial o PSD, nos digam com clareza como pensam colocar Portugal no caminho do crescimento económico que, nas próximas décadas, nos retire desta pobreza crónica em que temos vindo a cair.

Se Luís Montenegro tem projectos para o país, e temos de acreditar que sim, então que nos clarifique, "preto no branco" quais são. Chegou o momento! Admitamos que sim, que tenha ideias para o país, mas elas ainda não são visíveis aos olhos da opinião pública. Esta está cada vez mais amadurecida e começa a não embarcar mais em "cantos de sereia".

Assim, é preciso saber o que fará para diminuir a carga fiscal que sufoca os portugueses. Pagamos impostos, muitos, e não recebemos em troca serviços públicos de qualidade.

Temos graves problemas demográficos com uma população envelhecida que põe em risco a vitalidade do nosso tecido social e pode comprometer a sustentabilidade futura da Segurança Social. Qual a solução que Luís Montenegro tem para esta realidade?

As nossas regiões mais interiores estão despovoadas, sem empresas, com populações envelhecidas. Onde estão as propostas de Luís Montenegro para dinamizar a fixação de empresas nas zonas mais atrasadas do país, de modo a revitalizar o seu tecido económico?

O que fará o líder social-democrata para solucionar os graves problemas que afectam a saúde, uma das mais preciosas conquistas de Abril? Como fará para criar condições para suprir a lacuna de médicos de família para um milhão e setecentos mil portugueses que estão desprotegidos na área da saúde?

Qual a sua ideia para começar a responder aos problemas da escassez de água que, nalguns anos, irá afligir as regiões do Algarve e Alentejo? Vai fazer centrais de dessalinização? Onde? Qual será a sua política de gestão de água para o país?

E a Justiça? Uma das áreas mais votadas ao abandono pelo PS que há anos carece de uma reforma profunda que enfrente os interesses instalados e transforme a Justiça num instrumento moderno, rápido e acessível a qualquer português.

E que seja uma ferramenta fiável e credível para o investimento estrangeiro! Como vai fazer dr. Luís Montenegro?

E a agricultura esmagada pelas culturas intensivas? Tem projectos para promover um saudável equilíbrio entre aquela realidade e o desenvolvimento dos pequenos agricultores?

A sociedade portuguesa é um mar de problemas. O PS não se pode queixar e é o primeiro responsável por este "frenesim da direita". Abriu as portas a isso com esta falta de rumo e de projectos para resolver os problemas dos portugueses. Pode ser até que estejamos já num momento de turning point e, em breve, possam acontecer eleições antecipadas. Mas já não há mais espaço para "cheques em branco". Se quer o poder então, antes, Luís Montenegro tem de dar a conhecer ao país as suas propostas. Venha de lá esse programa de governo!

Jornalista

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