Não basta pedir perdão

Durante anos, exerci funções governativas que me fizeram trabalhar numa base quase diária com pessoas e estruturas da Igreja Católica. Quero testemunhar o importante papel que desempenham na sociedade, bem como o empenho e abnegação de tantos bispos, padres e leigos.

Também sei, e também por experiência própria, que quem tem de intervir publicamente, quem está na vida pública, está sujeito a ter intervenções menos felizes, mesmo que a intenção seja a melhor. No caso das declarações de alguns responsáveis da Igreja Católica, o que sucedeu, infelizmente, vai além de episódios infelizes.

A Igreja portuguesa chegou tarde a este problema. É possível que tenha presumido que este flagelo - abuso de menores - era uma realidade americana, australiana, chilena, polaca, alemã ou francesa - e que em Portugal não teria dimensão. Que tenha admitido que o manto do silêncio podia persistir. Contudo, ao nomear uma Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja, dando-lhes toda a liberdade para atuar, a Igreja deu um sinal de transparência e responsabilidade.

Fez esta semana um mês que a Comissão Independente divulgou as conclusões do relatório, chocando o país. Chocou, mas não surpreendeu. 512 testemunhos validados. 77% dos abusadores padres.

Tal como eu, milhões de portugueses ficaram literalmente em estado de choque quando fomos confrontados com relatos das vítimas que, sem rodeios, a Comissão tornou públicos.

Ora, perante este horror, a Igreja decidiu refletir e não reagir a quente; mais de 19 dias depois, finalmente pronunciou-se sobre o relatório. A Conferência Episcopal deu uma conferência de imprensa que, como disse o Presidente da República, "foi uma desilusão". Dias depois, um pedido de desculpa por erros de comunicação e más explicações.

Tenho de confessar que fiquei surpreendido com falta de respostas claras por parte da Igreja. Mesmo conhecendo a experiência de inquéritos semelhantes em vários outros países e as decisões relativamente a matérias tão sensíveis como o afastamento de padres suspeitos ou indemnizações às vítimas, só para citar os temas mais discutidos na imprensa, os responsáveis da Igreja Católica portuguesa não souberam dar respostas. Pelo que deixaram perceber, a questão das indemnizações não foi decidida; a suspensão dos sacerdotes ficou ao critério de cada diocese - com a agravante de alguns bispos revelarem preferir esperar para ter a certeza sobre os suspeitos, para não correrem o risco de suspender algum sacerdote injustamente.

Não ocorreu aos bispos que, para a generalidade da população, estas respostas são inaceitáveis. Que perante a monstruosidade dos crimes, que destruíram a vida de milhares de pessoas, não é aceitável a falta de empatia com o sofrimento das vítimas que alguns responsáveis aparentaram.

Como não é aceitável o tempo que Igreja parece requerer para dar as respostas que se exigem. O tempo lento da Igreja não se compagina com as exigências dos dias de hoje. Felizmente, algumas vozes sensatas na Igreja fizeram-se finalmente ouvir.

Como a de Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa. Homem culto, inteligente e experiente comunicador, veio dizer o óbvio: "A Igreja afastará padres" e "moralmente tem toda a obrigação de pagar indemnizações" porque, "citando o Papa Francisco, há dias em que não basta pedir perdão".

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Matteo Salvini e Georgia Meloni

Matteo Salvini, vice primeiro-ministro de Itália, fez anos na 6ª feira. Juntou a primeira-ministra, Georgia Meloni. Cantaram karaoke.
A música que os chefes da extrema-direita italiana escolheram foi La canzone de Marinella. Fala de uma mulher que morreu afogada. Foi nesse dia que começaram os funerais de algumas das 80 pessoas que morreram quando tentavam chegar de barco a Itália. Morreram todos afogados.

Eurodeputado

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