É hora de mudar?

Uma das narrativas de marca da direita portuguesa - entre partidos, comentadores e similares - é a da necessidade de fazer crescer o PIB para que seja possível proceder à respetiva distribuição. Por outras palavras, sem bolo não há fatias. Concordo!

Uma segunda narrativa da direita, esta muito recente, é a de que Portugal tem de mudar de vida porque neste século o crescimento do PIB tem sido paupérrimo e assim, como decorre da primeira narrativa, não há bolo para dividir. Não concordo!

O problema desta segunda mensagem é que esconde mal o diabo, deixando-lhe o rabo de fora. Aprende-se na escola que a média é uma conta de dividir. Se dividirmos o crescimento entre 2000 e 2019 por vinte, obtemos efetivamente um crescimento médio anual anémico. Só que esta operação mascara diversas fases do nosso percurso político e socioeconómico. A menos de dois meses das eleições legislativas, esta ideia só pode interessar a quem é responsável pelos anos de mau crescimento.

Passo a explicar. Nos anos de 2016, 2017, 2018 e 2019, Portugal cresceu acima da média da União Europeia. Convergiu com a Europa, por conseguinte. O crescimento médio do nosso PIB nesse período - e excluo 2020 porque a pandemia alterou tudo, cá e em todo o lado - foi de cerca de 2,8%, contra 2,2% da UE. Com esta boa performance nacional, o crescimento no que resta do século só pode ter sido fraquíssimo. É a matemática. Não admira, portanto, que a direita nos atire com médias longas, uma espécie de areia para os olhos, na tentativa de enganar os portugueses, como se estes não soubessem que os últimos anos de governação foram os da rejeição da cultura de austeridade e dos salários baixos.

Nos últimos anos, Portugal alcançou resultados que nos fazem ter esperanças e certezas. Foram batidos recordes do século, como o maior crescimento do PIB, o menor desemprego, as maiores exportações, o menor défice - em rigor, o primeiro superavit - e a maior redução da dívida. Estas estatísticas têm uma característica comum, que faz toda a diferença: são oriundas de entidades independentes, nacionais e internacionais, pelo que estão a salvo de qualquer manipulação por parte de governos, partidos ou comentadores. É o que é.

E por falar em entidades independentes, a OCDE veio esta semana rever em alta as projeções para o crescimento da nossa economia. 4,8% em 2021 e 5,8% em 2022, com a certeza de que ultrapassaremos o volume do PIB pré-crise já em meados de 2022. Nas palavras desta organização internacional independente, este é um crescimento "robusto". De resto, uma projeção para 2022 que supera as do Governo, do Banco de Portugal, do Conselho das Finanças Públicas, do Fundo Monetário Internacional e da Comissão Europeia.

É claro que existem ameaças sistémicas que não devem ser ignoradas. A pandemia pode acelerar e forçar novos confinamentos, o preço da energia pode ser objeto de novo ataque especulativo, os conflitos nas fronteiras leste da UE - Bielorússia e Ucrânia - podem escalar. Para isso e felizmente, Portugal está integrado numa União dotada de mecanismos de mutualidade que nos ajudam a ultrapassar as dificuldades exógenas.

Voltando à política nacional, é legítimo reconhecer que as previsões do governo são sérias e fidedignas, que a gestão da pandemia tem sido competente e não deixou o país atrasar-se na preparação do relançamento e que a economia portuguesa demonstra resiliência, contradizendo os pessimistas encartados.

A pergunta, então, apresenta-se-nos clara e inteira: é hora de mudar?

Deputado e professor catedrático

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