Cidades e Turismo: Como crescer sem perder a identidade?

Na medida certa, o Turismo pode ser o maior trunfo de um país. Em Portugal, o Turismo cresceu sustentadamente até março de 2020, e ao que tudo indica vai retomar já no 2º semestre de 2022 a rota de ascensão. O seu crescimento sustentável cria riqueza, gera emprego e melhora consideravelmente a qualidade de vida das populações. Mas quando se massifica e cresce descontroladamente pode ser um "presente envenenado", destruindo a identidade cultural dos povos, a beleza natural das regiões e degradando de forma considerável a qualidade de vida de quem vive nas cidades. Qual a justa medida para o sucesso? Por onde começar e, acima de tudo, quando e como parar?

Muito se vinha falando sobre a capacidade de carga dos locais turísticos e, no nosso caso, mais agudamente das nossas principais cidades, Lisboa e Porto, deixando de lado uma simples constatação: os centros históricos destas duas cidades estão hoje muito melhor do que estavam há anos, abandonados à sua sorte. Por razões diversas - começando no planeamento urbano/desenho do espaço público, ao investimento na reabilitação, ao investimento privado (e não apenas em alojamento, mas na restauração, no comércio, novas indústrias criativas, etc) - os centros históricos de Lisboa e Porto ganharam vida, foram regenerados, abriram-se à população, aos turistas e à diversidade. Foi isso que o Turismo trouxe. Ou já nos esquecemos do estado em que a Baixa do Porto e de Lisboa estavam antes desta revitalização?

Mas convém prever e acautelar o futuro, para que continuemos bem.

O debate está na ordem o dia e há tensões e desafios que a gestão articulada das várias necessidades nas cidades coloca. É importante encontrar um modelo que permita monitorizar o volume de turistas versus capacidade de alojamento versus capacidade de habitação versus capacidade das infraestruturas, designadamente de transporte, aeroportuária, segurança, higiene urbana, etc. E, em razão desta monitorização, planear o Turismo. É tempo de ultrapassar um modelo de crescimento espontâneo, "orgânico", e passar para um modelo de ordenamento sustentável. É do interesse de todos que as cidades continuem a ter a capacidade de atração de turistas, visitantes e residentes.

Ora, estava-se já neste caminho de reflexão quando a pandemia rasgou brutalmente a forma como vivíamos e, por isso, a perspetiva com que olhamos para os espaços públicos e privados. Tudo mudou, desde os modos de trabalho; de estudo; de compras; de convívio; de lazer; de nos deslocarmos. Tantas, tão bruscas e rápidas mudanças! Que trouxeram ainda consigo um revivalismo dos espaços rurais, da natureza. E impôs-se a necessidade de repensarmos, reprogramarmos, redesenharmos as cidades, trazendo ainda um outro repto: como preparar as cidades para responderem às pandemias? Desafio esse que acresce a outros: como cumprir os objetivos do Pacto Ecológico Europeu? Como planear e transformar as cidades, quando estas são responsáveis por 75% das emissões de carbono e mais de 50% da população do mundo vive em cidades (e em 2050 mais de 75%) e representam quase 80% do PIB Mundial?

Há muitos exemplos internacionais com modelos de gestão distintos, e neste momento, em todo o Mundo, vários foruns de urbanismo (e não só: a última conferência de DAVOS teve como um dos pratos fortes da agenda repensar as cidades para o futuro post Covid) abordam esta missão. Cada cidade tem de encontrar o seu modelo e caminho. O objetivo é o mesmo: assegurar que as cidades oferecem bem-estar, qualidade de vida, capacidade de realização, apoio social aos seus habitantes. E a quem as visita. Criar uma cidade feliz não é uma utopia. Há é que colocar no centro das decisões as pessoas. Todas as pessoas. Assim se fizeram e fazem cidades.

Falarei sobre este tema que me apaixona em próximas crónicas.

CEO/AHP

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