A probabilidade do sucesso profissional

Se se perguntar a um aluno no último ano do curso ou nos primeiros 1 a 3 anos de carreira se irá ter sucesso profissional a resposta é quase incontornavelmente sim.

Se se perguntar a qualquer aluno de MBA no início do seu percurso formativo sobre se vai ficar nos 50% melhores alunos a resposta é em mais de 95% dos casos que sim.

Se se perguntar, igualmente, a estes mesmos alunos de MBA quantos ficarão nos 10% melhores alunos a resposta contém mais de metade dos respondentes.

O mesmo acontece aos empresários ao lançarem o seu primeiro negócio, onde as taxas de fracasso são superiores a 50%. À pergunta sobre a probabilidade de sucesso do seu negócio os novos empresários respondem com um expressivo e afirmativo 90%, em média, sendo que muitos respondem com 100%.

Este mesmo otimismo toma conta, por exemplo, dos professores universitários. É usual termos na ordem dos 95% de professores de uma universidade afirmando que são melhores que os seus pares. Resultado, de resto, normal entre professores! Esta pode ser, uma das razões, senão a principal, pela qual os professores universitários são de gestão difícil - senão impossível. E o mesmo não está longe da verdade em contextos de burocracias profissionais (vide Mintzberg) como quando encontramos, por exemplo, ambientes de justiça ou de saúde.

Este otimismo irrealista deve ser combatido.

E há certamente duas armas principais para combater este irrealismo ou, de outra forma, para ajudar a que o sucesso profissional proclamado se torne real.

A primeira é o trabalho. Se muitos apelam à sorte há quem tenha o bom senso, e basta o bom senso, de correlacionar as probabilidades maiores de sucesso a todos quantos colocam muito esforço, trabalho, empenho e entrega naquilo que fazem.

A segunda é o estudo. Por mais que nos convençamos de que o estudo ficou para trás a verdade é que nunca fica para trás. A atualização, o lifelong learning, as jornadas de aprendizagem ao longo da vida deverão ser permanentes e não devem nunca ser mais que a procura natural daquilo que não se sabe - já que é o bom senso também que nos dirá que a maioria das coisas não se saberá jamais.

É claro que me vão dizer que nem o trabalho nem o investimento em estudo explicam o sucesso de muito boa gente. Verdade. Mas a resposta que dou sempre é que pontual e casuisticamente podem não explicar mas, estatisticamente, explicam sempre.

Uma questão para rematar. Perguntem a alguém se está a pensar fazer um curso nos próximos seis meses a um ano e quantos fez nos últimos 5 a 10 anos quando essa pessoa vos pedir opinião sobre alguma decisão a tomar ou caminho a percorrer. Se a resposta for zero e o sucesso não acompanha essa pessoa a probabilidade de o sucesso aparecer é tendencialmente zero. Mais, qualquer aluno que saia de uma licenciatura ou mestrado e que dois a três anos depois de ter acabado não fale em voltar à universidade ou a um ambiente de aprendizagem está a trabalhar para ficar limitado. Limitado no crescimento e limitado na "sorte" que possa vir a ter.

Por isso, a questão é simples. Uma coisa é o que se proclama para aí como fazer só o que gosto. Outra o sucesso profissional. E são pouco correlacionáveis, tenho pena de o dizer. O que sei é que se não se trabalhar muito e não se estudar também muito não se consegue, na maioria das vezes, chegar ao sucesso profissional. Ou melhor, a probabilidade de, com muito worklife balance e "vudu aspiracional" de conseguir chegar ao sucesso é estatisticamente nula. Desculpem lá.

*Professor Catedrático, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Presidente do ISCTE Executive Education

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