Trump ameaça acordo com Irão e fica isolado

Acordo multilateral de contenção do programa nuclear iraniano posto em causa pelo presidente norte-americano

Em dois dias, Donald Trump atacou o legado do antecessor em duas frentes. Na quinta-feira assinou uma ordem executiva que reduzirá a eficácia do sistema de saúde que ficou conhecido como Obamacare. Ontem prometeu tirar "a qualquer momento" os Estados Unidos do acordo nuclear, após ter declarado que não certifica o Irão como cumpridor do "espírito do acordo nuclear" celebrado em 2015 entre aquele Estado, os países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (o chamado P5), mais a Alemanha e a União Europeia. Os países europeus responderam de imediato em defesa do acordo nuclear.

Apresentada pelo presidente norte-americano na Casa Branca, a "Nova Estratégia para o Irão" é uma forma de pressionar Teerão para "neutralizar a influência desestabilizadora do governo iraniano e restringir a sua agressão, particularmente o apoio ao terrorismo e aos seus militantes". Trump começou por fazer uma resenha histórica do "regime fanático" dos aiatolas, do assalto à embaixada norte-americana na capital iraniana à interferência no Iraque, na Síria e no Iémen e à acusação, sem provas, de que desenvolve um programa de armamento com a Coreia do Norte.

De seguida, o líder norte-americano classificou o acordo como "um dos piores em que os Estados Unidos entraram", porque o levantamento de sanções ao Irão trouxe uma renovada capacidade para uma "ditadura corrupta por trás de uma falsa aparência de democracia". E declarou: "Não vamos continuar por um caminho cuja conclusão previsível é mais violência, mais terror e a ameaça muito real do despertar nuclear do Irão." Em consequência, o presidente dos EUA anunciou sanções contra os Guardas da Revolução e deu 60 dias ao Congresso para aprovar a restituição de sanções.

Angela Merkel (Alemanha), Theresa May (Reino Unido) e Emmanuel Macron (França) responderam através de um comunicado conjunto, no qual pediram à Administração e ao Congresso dos EUA para não seguirem o caminho das sanções. Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, foi mais contundente. "Não nos podemos dar ao luxo de desmantelar um acordo nuclear que está a funcionar", declarou, para de seguida recordar que o acordo não é bilateral, mas multilateral. Já o ministro dos Negócios Estrangeiros russos, Sergei Lavrov, considerou "inadmissível o uso de retórica agressiva e ameaçadora em relações internacionais". O presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirmou que "o Irão e acordo estão mais fortes do que nunca" e que a atitude de Trump iria isolar os EUA. Em defesa de Washington saíram Israel e a Arábia Saudita.

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