Traficantes estão a explorar nova entrada para a UE através da Roménia
Rota através do mar Negro já esteve ativa até finais de 2014. Agência europeia das fronteiras considera que traficantes estão "interessados em reativar esta opção". Mas dificuldades da travessia são superiores às do Mediterrâneo.
Cerca de 500 migrantes provenientes do Médio Oriente chegaram à Roménia, pelo mar Negro vindos da Turquia no espaço de um mês, dizia no início da semana uma fonte das autoridades de Bucareste. Um movimento que representa a tentativa crescente de os traficantes de pessoas encontrarem caminhos alternativos para a entrada ilegal de migrantes na Europa.
Desde 2015 que a União Europeia (UE) procura controlar o número de refugiados e de migrantes que chegam ilegalmente às suas costas, vindos de África e do Médio Oriente.
Um acordo de 2016 com a Turquia encerrou a "estrada" da Grécia para a UE e procura agora travar as chegadas da Líbia para Itália. No conjunto, as chegadas ao espaço europeu através do Mediterrâneo decresceram de 28 mil em junho para menos de dez mil em agosto, segundo dados das Nações Unidas. Mas fonte da guarda-costeira romena explicou à Reuters que, no espaço de um mês, 475 pessoas chegaram à costa deste país no espaço de 30 dias entre agosto e setembro, algumas naturais do Irão e Iraque. Sete traficantes, nacionais da Turquia, Bulgária, Síria, Iraque e Chipre, foram detidos.
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Ainda que este fluxo de migrantes permaneça reduzido em comparação com os milhares chegados às ilhas da Grécia no auge da crise em 2015, os números agora revelados marcam um assinalável crescimento face aos 500 migrantes que fizeram este mesmo percurso entre 2013 e 2015, segundo dados de Bucareste.
A agência europeia das fron-teiras, a Frontex, afirma estar a acompanhar a situação e sustenta que os traficantes podem estar a testar entradas alternativas no território europeu, após as travessias do Mediterrâneo se terem tornado mais difíceis.
"Ainda que seja ainda muito cedo para falar da abertura de uma nova estrada para a entrada de migrantes, as recentes interceções de embarcações de madeira no mar Negro indiciam que os traficantes estarão interessados em reativar esta opção", disse um porta-voz da Frontex, Krzysztof Borowski. A Frontex recorda que a opção do mar Negro esteve ativa até 2014, mas não é de esperar um desenvolvimento em grande escala desta opção, devido especialmente às dificuldades de navegação com a aproximação do outono.
A 13 de agosto, a guarda-costeira romena anunciou ter salvado 101 adultos e 56 crianças do Iraque e Irão, apinhados a bordo de um pequeno barco de pesca, em dificuldades no mar devido a ventos fortes. "Estavam amontoados uns sobre os outros... a embarcação só podia acomodar com segurança uma dúzia de pessoas", explicou um porta-voz. Na vizinha Bulgária, dados do Ministério do Interior revelam que nenhum migrante foi este ano intercetado nas suas águas territoriais. Ambos os países estão ainda fora de zona Schengen de livre circulação, mas esperam integrá-la no mais curto espaço de tempo possível. Ainda que o ramo executivo da UE, a Comissão Europeia, tenha afirmado que recomendaria a sua adesão em breve, muitos outros Estados membros da UE mostram-se céticos. A forma como saberão gerir quaisquer fluxos migratórios será determinante para avaliar se estão ou não em condições de cumprir os critérios para integrarem o espaço Schengen.
Desde a entrada na UE em 2007, Bulgária e Roménia têm estado a ser seguidas pela Comissão Europeia devido a preocupações nas áreas da reforma dos respetivos sistemas de justiça e por suspeitas de corrupção.
Ainda que Ancara tenha conseguido travar o tráfico de pessoas através do Mediterrâneo, muitos refugiados e migrantes que conseguiram passar antes disso estão agora retidos nas ilhas gregas, geralmente em condições deploráveis. E, com a crescente tensão nas relações entre a Turquia e a UE desde o acordo de 2016 sobre os migrantes e refugiados, teme-se em Bruxelas que o presidente Recep Tayyip Erdogan possa anulá-lo. "Erdogan ergueu um pouco uma tampa para manter a pressão sobre a UE. Está a exercitar os músculos", considera o analista político romeno Mircea Marian, comentando o recente aumento daqueles que partem das costas da Turquia através do mar Negro.
Jornalista da Reuters