Sadr promete governo que não será só para maioria xiita
Bloco do clérigo foi o mais votado nas legislativas de dia 12 mas terá de negociar um executivo de coligação com rivais
Moqtada Sadr ganhou fama ao liderar a contestação xiita contra as forças americanas no Iraque após a invasão de 2003. Agora, o clérigo xiita, cuja coligação ganhou a maioria dos lugares nas eleições legislativas de 12 de maio, tem procurado mostrar um rosto moderado e garante estar a preparar um governo "inclusivo", atentos às necessidades de todo o povo iraquiano e não só da maioria xiita.
Com nenhum bloco a conseguir a maioria absoluta nas eleições, o Iraque tem pela frentes longas semanas - ou mesmo meses - de negociações para formar o novo executivo. Mas mal foram conhecidos os resultados finais, Sadr pôs mãos à obra, reunindo-se com o primeiro-ministro Haider al-Abadi, cujo bloco teve um fraco resultado no escrutínio. No final, o clérigo sublinhou que este encontro passa "uma mensagem clara e reconfortante ao povo iraquiano: o vosso governo vai tomar conta de vocês e será inclusivo, não vamos excluir ninguém. Vamos trabalhar para a reforma e a prosperidade". A coligação Sairoon de Sadr venceu 54 dos 329 lugares ao Parlamento iraquiano, enquanto o bloco Vitória de Al-Abadi conseguiu 42, ficando em terceiro, atrás dos apoiantes de Hadi al-Amiri, que liderava um conjunto de grupos paramilitares e mantém relações próximas com o Irão há décadas.

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Não tendo sido candidato, Sadr não poderá ser o primeiro-ministro de um eventual governo de coligação. O clérigo -além de se apresentar na campanha como um lutador anticorrupção que lidera uma coligação que junta comunistas, sunitas e independentes - tem desafiado a influência do Irão no Iraque. O religioso que em 2006 a revista Newsweek descrevia como "o Homem maus Perigoso do Iraque", muito graças à influência que o seu Exército de Mahdi ganhou à medida que o país mergulhava na violência sectária conseguiu agora um regresso à ribalta após uma década de travessia do deserto. E terá agora de gerir a relação com al-Amiri, a que o une apenas o desejo de expulsar imediatamente do país as forças americanas ainda ali estacionadas. Após a derrota no terreno do grupo radical Estado Islâmico, em fevereiro os EUA anunciada a redução de tropas.
Antes das eleições, Teerão deixou claro que não permitiria que Sadr governasse o vizinho Iraque. Na semana passada, o major general Qassem Soleimani, líder da Força Quds da República Islâmica, o principal apoio de Amiri, esteve mesmo em Bagdad para influenciar um eventual governo pró-Irão. Os dois países estiveram em guerra entre 1980 e 1988, mas desde a queda de Saddam Hussein - que durante 24 anos manteve o país sob domínio da minoria sunita - tem havido uma aproximação entre Bagdad e Teerão, com a chegada de representantes da maioria xiita ao poder.
Com os vários blocos obrigados a entenderem-se para chegar à maioria absoluta, nada garante portanto que seja Sadr a ter a palavra final sobre o novo primeiro-ministro. E apesar dos mau resultado, Abadi pode mesmo acabar por manter o cargo ao surgir como um nome de consenso.