Refugiados: Merkel defende acordo entre UE e Turquia

Vários países, como Chipre e Hungria, podem travar acordo que prevê reenvio de refugiados que estão na Grécia para a Turquia.

"Tenta ser forte", disse ontem Angelina Jolie a um rapaz que encontrou no porto de Pireu, em Atenas, onde cerca de quatro mil migrantes e refugiados vivem abrigados num campo da ONU. A visita da atriz norte-americana e enviada do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) aconteceu na véspera da cimeira em que os líderes europeus deverão decidir se aprovam ou não o projeto de acordo UE-Turquia sobre os refugiados. Apesar da pressão feita pelo governo alemão no sentido de se encontrar uma solução para esta questão, há vários países que podem travar um entendimento, embora por motivos diferentes.

"O que está em jogo é se conseguimos ou não ter um acordo que, pela primeira vez, nos dê a oportunidade de chegar a uma solução sustentável e pan-europeia para a questão dos refugiados", disse ontem a chanceler Angela Merkel, citada pela Reuters. A digerir ainda o revés eleitoral sofrido pela CDU nas eleições regionais de domingo, a líder alemã terá hoje de convencer os seus aliados europeus. Falando aos deputados na habitual sessão parlamentar que antecede o Conselho Europeu, Merkel deixou um aviso sobre a ilusão de que fechar a rota dos Balcãs é a solução: "A atual diminuição [do fluxo] na Alemanha e noutros Estados membros é uma coisa. A situação na Grécia é outra e deve ser de grande preocupação para nós porque não deixará de ter consequências para todos na Europa." Tentando acalmar aqueles que desconfiam da tentativa da Turquia em fazer avançar a sua adesão à UE à custa da crise dos refugiados, a chanceler sublinhou: "As negociações com a Turquia sobre a entrada na UE não estão na agenda."

O projeto de acordo entre a UE e a Turquia sobre os refugiados prevê que os europeus paguem aos turcos, ao todo, seis mil milhões de euros para ajudar Ancara a gerir os 2,7 milhões de refugiados sírios que estão no seu território. Equacionado está também a ser o reenvio de refugiados que estão na Grécia para a Turquia e, depois, da Turquia para países da UE. A ideia é criar uma rota legal para os migrantes que acabe de vez com o negócio dos traficantes, mas, segundo a ONU e várias ONG, é suscetível de violar as regras do direito internacional que proíbem a expulsão coletiva de pessoas. A par disso, o governo turco quer que os seus cidadãos possam entrar na UE sem necessidade de visto a partir de junho e ver abertos novos capítulos das negociações de adesão.

"A República de Chipre não tem intenções de aprovar a abertura de novos dossiês se a Turquia não respeita as suas obrigações", disse na terça-feira o presidente cipriota Nicos Anastasiades, devido ao diferendo histórico com Ancara sobre a divisão da ilha. Mas Chipre não é o único com reticências. Espanha, país que também é por vezes visado por vagas de migrantes ilegais, é contra expulsões coletivas e prefere outras soluções, como por exemplo vistos humanitários, noticiou ontem a Efe. O governo da Hungria é contra o reenvio de refugiados da Turquia para a UE, o da França receia pela falta de legalidade do acordo em discussão, o da Áustria desconfia do que Ancara quer em troca do acordo e o da Bulgária, país com fronteira externa, quer garantias semelhantes às que se pretende dar aos gregos.

Portugal, por seu lado, segundo disse ontem o primeiro-ministro, António Costa, no Parlamento, também acredita pouco no mecanismo de retorno Grécia-Turquia. "Tenho esperança de que aqueles que acreditam tenham razão. Eu tenho dificuldade em acreditar", disse, anunciando que irá em breve à Grécia a convite de Alexis Tsipras.

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