Os desafios de PPK: congresso fujimorista e oposição de esquerda

Pedro Pablo Kuczynski venceu Keiko Fujimori por apenas 41 438 votos de diferença

Após quatro dias de contagens e recontagens, Pedro Pablo Kuczynski foi ontem declarado presidente eleito do Peru. O economista de 77 anos obteve 50,12% dos votos contra os 49,88% de Keiko Fujimori - uma diferença de apenas 41 438 votos. Agora, o ex-ministro da Economia e ex-funcionário do Banco Mundial quer trabalhar por um país "unido, reconciliado e pronto a dialogar". Uma tarefa que se adivinha difícil, uma vez que passará por lidar com um Congresso de maioria fujimorista e com uma esquerda que só o apoiou na segunda volta de dia 5 para travar a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, detido desde 2007 por corrupção e violação dos direitos humanos, mas promete fiscalizar o seu governo.

Numa conferência de imprensa na sua sede de campanha em San Isidro, Kuczynski agradeceu aos peruanos por "uma eleição democrática". No exterior, os apoiantes do seu Peruanos Por el Kambio - PPK, as mesmas iniciais pelas quais o presidente eleito é conhecido - faziam a festa. Dos países vizinhos começaram a chegar mensagens de parabéns. A presidente chilena, Michelle Bachelet, foi a primeira, seguida do argentino Maurício Macri, e do colombiano Juan Manuel Santos.

Do lado de Keiko Fujimori imperou o silêncio. A líder da Força Popular só ao fim do dia reconheceu a derrota. Vencedora da primeira volta das presidenciais, Fujimori, que aos 19 anos (hoje tem 41) assumiu o papel de primeira-dama do pai, era a clara favorita na segunda volta. Mas nos últimos dias, PPK conseguiu uma recuperação inesperada, muito graças à insistência nas ligações entre os colaboradores da adversária e casos de lavagem de dinheiro e manipulação de informação. E beneficiou, claro, do apoio da esquerda, liderada pela ex-candidata Verónika Mendoza, que ficou em terceiro lugar na primeira volta.

Mas este apoio da esquerda depressa se pode tornar um pesadelo para Kuczynski. "A sua vitória vai dar tranquilidade aos antifujimoristas a curto prazo, mas por mais que [o novo presidente] queira fazer coisas, isso não dependerá dele, porque o Congresso é fujimorista. E curiosamente quem mais apoio lhe deu é quem mais o vai contestar nas ruas", explicou à Univision Enrique Castillo. O analista peruano sublinha a situação delicada em que PPK se vai encontrar para poder governar: "Se se aproximar do fujimorismo, todas as forças [de esquerda] que o apoiaram podem causar-lhe problemas. Mas se se entregar nos braços dos que o apoiaram, o fujimorismo vai fazer-lhe uma oposição férrea."

Além da instabilidade política, PPK terá de lidar com a contestação da sociedade civil, além de reativar uma economia que depois dos 8,5% de crescimento em 2010 tem vindo a desacelerar, estando previsto ficar este ano abaixo dos 3%. A luta contra a corrupção é outro dos grandes desafios do novo chefe do Estado, que prometeu levar água canalizada a todas as aldeias de um país onde, apesar do relativo sucessor económico, um em cada cinco peruanos vive abaixo do limiar da pobreza.

Nascido em Lima, Kuczynski passou parte da infância na cidade amazónica de Iquitos onde o pai, um médico judeu alemão, dirigiu durante anos a leprosaria San Pablo, por onde passou Che Guevara. Do lado da mãe, a franco-suíça Madeleine Godard, o presidente eleito do Peru é familiar do realizador Jean-Luc Godard. Depois de ter frequentado os melhores colégios de Lima, Kuczynski estudou Economia em Oxford, nos EUA. Com um mestrado em Princeton e aos 22 anos, foi contratado pelo Banco Mundial para a área da América Central. Após uma carreira dividida entre os Estados Unidos e o Peru, na qual conciliou a política e a economia, o "gringo", como é conhecido, quer agora que "os peruanos que sentem que o comboio lhes passou ao lado possam voltar a entrar".

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG