Mundo
13 janeiro 2019 às 13h56

Oposição ao regime iraniano financiou 80% de campanha do Vox em 2014

Apoiantes do Conselho Nacional de Resistência do Irão, de mais de 15 países, apoiaram o partido de extrema-direita espanhol com várias doações. No total foram 800 mil euros depositados numa conta do Vox, escreve o El País. A formação liderada por Santiago Abascal garante a legalidade do financiamento

DN

O Conselho Nacional de Resistência do Irão (CNRI), movimento de oposição ao regime iraniano no exílio, financiou 80% da campanha das eleições europeias de 2014 do partido espanhol Vox. A investigação do jornal El País revela que opositores do regime iraniano, provenientes de mais de 15 países, entre os quais EUA, Alemanha, Itália, Suíça e Canadá, fizeram mais de 100 doações para uma conta da formação espanhola de extrema-direita.

A campanha eleitoral custou um milhão de euros, dos quais 800 mil euros foram doados pelo CNRI, refere a edição deste domingo do diário que cita três fontes conhecedoras das contas do partido.

O antigo deputado do PP e ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Alejo Vidal-Quadras era o candidato da formação de extrema-direita às eleições europeias de 2014. Obteve 1,56% dos votos, não conseguiu um lugar no Parlamento Europeu e acabou por deixar o partido. O mesmo partido que surpreendeu nas eleições regionais da Andaluzia de 2018 ao eleger 12 deputados. PP, Ciudadanos e Vox têm juntos 59 deputados, ou seja, mais do que os 55 necessários para chegar à maioria absoluta no Parlamento da Andaluzia, que foi governada pelo PSOE nos últimos 36 anos.

Em 2014, a campanha do Vox para as eleições europeias recebeu no total 146 doações feitas pelo CNRI por um período de três meses. Vidal-Quadras terá informado Santiago Abascal, líder do Vox, da proveniência do dinheiro usado na campanha.

Partido não divulgou a proveniência das contribuições

Na altura, o partido de extrema-direita não divulgou a proveniência dos 800 mil euros na campanha eleitoral, resultante de mais de uma centena de contribuições do CNRI. "Ninguém nos perguntou", argumenta o ex-deputado do PP.

O Tribunal de Contas não auditou a relação entre o Vox e o CNRI porque a lei só exige o escrutínio das contribuições dos partidos com representação parlamentar. O documento em Excel a que uma fonte teve acesso revela as identidades dos iranianos que fizeram as contribuições.

A relação de Vidal-Quadras com elementos do movimento de oposição ao regime iraniano no exílio remonta a 1999, quando era deputado europeu. O El País refere que na altura o político espanhol recebeu o "socialista português Paulo Casaca", um representante "de um grupo denominado Amigos do Irão Livre", escreve o diário.

"Irão não era uma das minhas preocupações, mas pediram-me para receber pessoas do CNRI e foi o que fiz", justifica Vidal-Quadras ao jornal.

"Eram donativos à minha pessoa"

O movimento de oposição ao regime de Teerão, cuja sede é em Paris, é uma coligação que engloba várias organizações entre as quais a denominada "Mujahedines do Povo", que foi considerada terrorista pela União Europeia até 2009 e pelos EUA até 2012.

Durante o tempo que esteve no Parlamento Europeu, Vidal-Quadras participou em vários eventos organizados pelo CNRI e em reuniões anuais realizadas em Paris sob o lema "Irão Livre". Ao diário espanhol conta que não tinha informações detalhadas sobre os doadores, mas garante: "Eram pessoas que não tinham nada a ver com o Vox". "A candidatura era eu. Eram donativos à minha pessoa. Eu ajudei a salvar muitas vidas", disse. "São um grupo de exilados que me consideram como um protetor deles. Quando vou aos seus eventos, eles abraçam-me, beijam-me".

Vox garante que os donativos foram "legais e transparentes"

Pela voz do seu secretário-geral, Javier Ortega Smith, o Vox reagiu à investigação do El País ao garantir que as doações para a campanha eleitoral de 2014 foram "legais e transparentes". A formação de extrema-direita assegura que todo o financiamento da campanha às eleições europeias desse ano foi aprovado pelo Tribunal de Contas.

Ortega Smith refere que as doações individuais, de "dissidentes iranianos da ditadura teocrática do Irão", não ultrapassaram o máximo permitido por lei e que deram conhecimento das mesmas ao Tribunal de Contas para "analisar se cumpriam a lei".