08 dezembro 2016 às 00h21

O campeão da má imprensa honrado por ser eleito Pessoa do Ano pela 'Time'

Donald Trump, que em 2015 se tinha queixado por não ter ganho a distinção da revista norte-americana, bateu Hillary Clinton

Susana Salvador

Para Donald Trump, os jornais são responsáveis por espalhar falsas acusações contra si e fizeram tudo para proteger a adversária, Hillary Clinton. Em várias ocasiões, o presidente eleito dos EUA recorreu à sua conta pessoal no Twitter para disparar contra os jornalistas, alegando que a liberdade de imprensa não lhes dá o direito de escreverem o que querem se isso for falso. Mas isso não significa que odeie todos os media, especialmente se esta finalmente lhe atribui um prémio que cobiçava há pelo menos um ano.

Donald Trump é a Pessoa do Ano 2016 da revista Time. Reagindo à distinção, numa entrevista ao programa Today da NBC, o republicano disse que é "uma grande honra". E acrescentou: "Significa muito, especialmente para mim que cresci a ler a revista Time. É uma revista muito importante e tive a sorte de ter estado na capa muitas vezes este ano." Palavras bastante diferentes das proferidas há um ano, quando ficou em terceiro lugar no ranking, atrás da chanceler Angela Merkel (Pessoa do Ano 2015) e do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi.

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"Acho que escolheram totalmente a pessoa errada", disse então à Fox News. E no Twitter acrescentou: "Eu disse-vos que a revista Time nunca me iria escolher para ser Pessoa do Ano apesar de ser o grande favorito", escreveu. "Eles escolheram a pessoa que está a arruinar a Alemanha". E não foi a única vez que criticou a revista pelas suas escolas. Em 2012, criticou-a por não o ter escolhido para a lista dos 100 mais influentes, dizendo que a Time "tinha perdido toda a credibilidade", e um ano depois considerou esse ranking "uma piada", vaticinando que a revista iria "rapidamente morrer".

Mas este ano conseguiu finalmente aquilo que lhe escapava. Mas mesmo assim, não gostou do título: "Presidente dos Estados Divididos da América." Para Trump a afirmação é "sarcástica", lembrando que não foi ele que dividiu a América. "Agora há muita divisão. Mas nós vamos voltar a uni-la", disse à NBC.

A diretora da Time, Nancy Gibbs, explicou o porquê da eleição. "Por lembrar a América que a demagogia se alimenta do desespero e que a verdade é tão poderosa quanto a confiança naqueles que a dizem, por capacitar um eleitorado oculto através da integração das suas fúrias e transmitindo ao vivo os seus medos e por moldar a cultura política do amanhã através da demolição da de ontem, Donald Trump é a Pessoa do Ano de 2016 da Time."

Segundo Gibbs, não houve quase discussão em relação à escolha - raramente o presidente eleito dos EUA não foi o escolhido. A única discussão, referiu, foi se essa influência foi positiva ou negativa. "O ano 2016 foi o ano da sua ascensão; 2017 vai ser o ano do seu governo, e tal como todos os líderes recém-eleitos, tem uma hipótese de cumprir as suas promessas e desafiar as expectativas", disse. Curiosamente, também nesta eleição Trump venceu Clinton (a segunda classificada), numa lista de finalistas que incluía ainda o presidente russo, Vladimir Putin ou a artista Beyoncé.