Mulher dá à luz durante ataque terrorista a maternidade no Afeganistão

Cordão umbilical teve de ser cortado com a mão e a mulher teve de tapar a boca da bebé para não fazer barulho. Morreram 24 pessoas entre recém-nascidos, mães e enfermeiras neste atentado em Cabul.

Enquanto homens armados matavam mães e recém-nascidos numa maternidade em Cabul na última terça-feira, um grupo de mulheres grávidas conseguiu esconder-se. Uma delas estava prestes a dar à luz uma menina.

"A mãe estava a sofrer, mas tentava não fazer barulho", disse à AFP uma parteira que participou no nascimento, exigindo anonimato.

"Ela até colocou o dedo na boca da recém-nascida para impedir que chorasse", contou a parteira, durante uma conversa telefónica, com a voz ainda trémula, três dias após o incidente.

Vinte e quatro pessoas, incluindo recém-nascidos, mães e enfermeiras, foram mortas no ataque à maternidade do hospital Dasht-e-Barchi, situado em uma área a oeste de Cabul, onde vivem muitos membros da minoria xiita Hazara.

Homens armados, disfarçados de membros das forças de segurança, invadiram o hospital "para matar mães a sangue frio", segundo relatos da ONG Médicos Sem Fronteiras, que administra a maternidade.

"Entraram nos quartos e atiraram nas mulheres nas suas camas. De forma metódica. As paredes estavam cheias de buracos de balas, havia sangue no chão dos quartos", relatou a ONG.

No momento do ataque, que durou quatro horas, havia 26 mães hospitalizadas. Onze delas morreram, três estavam prestes a dar à luz na sala de parto. Cinco ficaram feridas.

Depois de ouvir um alarme, a parteira escondeu-se com 10 mães numa "sala segura", um tipo de sala especialmente projetada para proteger de tiros e explosões quem esteja nela.

Cortar o cordão umbilical com a mão

As mulheres ouviram os tiros enquanto os agressores iam de sala em sala procurando novas vítimas. Então, uma delas começou a entrar em trabalho de parto.

"Ajudamos a mãe com as mãos sem luvas, não tínhamos nada além de papel higiénico e lenços", disse a parteira.

"Quando o bebé nasceu, cortamos o cordão umbilical com as mãos. Envolvemos o bebé e a mãe nos lenços que tínhamos na cabeça", continuou.

Enquanto as mulheres apavoradas tentavam manter a calma, os terroristas pediram para que abrissem a porta. "Mas sabíamos que eles não eram (membros das forças de segurança)", acrescentou.

Mais tarde, as forças afegãs mataram os três atacantes.

Após o ataque, 18 crianças foram transferidas para outro hospital para tratamento, algumas delas evacuadas do local nos braços dos soldados.

O ataque não foi reivindicado, mas os Estados Unidos atribuem a responsabilidade aos extremistas do grupo Estado Islâmico, que têm aumentado os ataques na capital afegã, geralmente contra minorias religiosas.

Isto ocorreu no meio de um contexto complexo no Afeganistão, que tem de lidar com a escalada ofensiva do Talibã contra as forças do governo além da pandemia do novo coronavírus.

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