03 dezembro 2015 às 00h04

Vitória ao alcance de três partidos espanhóis no início da campanha

36 milhões de eleitores espanhóis são chamados a votar no dia 20. Nenhum partido deverá ter maioria absoluta

Patrícia Viegas

A campanha eleitoral para as legislativas espanholas de dia 20 arranca hoje com a vitória ao alcance de três partidos políticos: o PP, o Ciudadanos e o PSOE. A única certeza que existe, para já, é que nenhum deles conseguirá uma maioria absoluta como a do PP em 2011, muito fruto do sucesso de formações como o Ciudadanos e o Podemos. Muitos preparam-se já para decretar o fim do bipartidarismo (herdado da transição em Espanha).

As sondagens da última semana indicam uma disputa pelo segundo lugar entre os socialistas liderados por Pedro Sánchez e o Ciudadanos de Albert Rivera. O partido nascido na Catalunha há cerca de dez anos tem-se imposto noutras zonas do país. Já há quem o classifique de Alternativa Laranja, numa alusão à cor do partido, admitindo que será esta formação a chave do novo governo. Não foi realizada nenhuma sondagem após o debate digital de segunda-feira no El País, em que só participaram os líderes do PSOE, Ciudadanos e Podemos, tendo o primeiro-ministro e líder do PP Mariano Rajoy recusado participar. E sido criticado por isso.

O que dizem as sondagens

Um inquérito Metroscopia realizado para aquele jornal diário entre os dias 23 e 25 de novembro e publicado na segunda-feira colocou populares, centristas e socialistas com 22,7%, 22,6% e 22,5% respetivamente. O Podemos, partido de esquerda radical e antiausteridade cujo candidato ao Palácio da Moncloa é Pablo Iglesias, surge na quarta posição com 17,1% dos votos. Depois de ter chegado a estar em primeiro, no início do ano, a formação tem vindo a cair.

Uma outra sondagem GESOP realizada entre 23 e 28 de novembro e publicada na terça-feira pelo El Periodico atribui ao PP 23,9% das estimativas de voto, ao PSOE 21,4% e ao Ciudadanos 21%.O Podemos ficar-se-ia pelos 16%. Cerca de 36 milhões de eleitores são chamados às urnas no dia 20.

Aznar ausente da campanha

O Ciudadanos, por outro lado, tem vindo a impor-se. Favorito do mundo empresarial, poderá roubar mesmo os votos do centro-direita ao PP de Mariano Rajoy, conforme alertou o ex-primeiro-ministro espanhol e ex-líder popular, José María Aznar. Este tem sido grande crítico da gestão de Rajoy, a quem, paradoxalmente, escolheu para sucessor. Aznar não participará nesta campanha eleitoral. Ao contrário de Rajoy, Sánchez poderá contar com o apoio dos ex-primeiros-minsitros socialistas Félipe González e Rodríguez Zapatero.

Rajoy tentou ontem valer-se dos dados sobre o desemprego (novembro deste ano foi o que menos desemprego registou) dizendo que são um bom incentivo para continuar a trabalhar. Na segunda-feira, em entrevista à Telecinco, à mesma hora do debate do El País, Rajoy prometeu gastar todo o dinheiro que fosse necessário para criar empregos no país e isentar de segurança social durante quatro anos todas as empresas que passem trabalhadores com contratos a prazo para contratos sem termo.

A questão da Catalunha

A aguardar o resultado das legislativas espanholas ficará também a questão da Catalunha. Ontem, o Tribunal Constitucional veio dar razão ao governo de Rajoy e declarou inconstitucional e nula a resolução que proclama o início do processo de independência catalão, aprovada a 11 de novembro, no Parlamento da Catalunha - apenas com os votos das formações independentistas Junts pel Sí e CUP.

Estes dois partidos não se conseguem entender, porém, em relação à investidura do novo presidente da Generalitat. Artur Mas, o atual líder e candidato proposto pela Junts pel Sí, é rejeitado pela CUP e não conseguiu ser eleito nas duas voltas já realizadas. À falta de entendimento até 9 de janeiro, poderão ser convocadas novas eleições autonómicas.

Como o resto de Espanha, os catalães esperam para ver o que acontece depois do dia 20. Se uma coligação entre PP e Ciudadanos vier a ver a luz do dia, muitos questionam-se é se Rajoy não terá o mesmo destino de Mas, pois o Ciudadanos poderia exigir a sua saída como condição para viabilizar um governo em Espanha.