20 junho 2016 às 00h05

Sondagens mantêm os campos do sair e do ficar virtualmente empatados

David Cameron avisa que "não haverá volta a dar" ao resultado do referendo. E insiste em consequências económicas negativas

Abel Coelho de Morais

Duas sondagens divulgadas ontem colocam em situação de empate virtual os defensores da permanência e da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), notando-se todavia que o campo do Ficar surge agora, de forma consistente, em primeiro lugar à frente do Sair.

As sondagens foram divulgadas no dia em que a campanha para o referendo da próxima quinta-feira voltou a decorrer em pleno, após a suspensão na sequência do homicídio da deputada trabalhista Jo Cox, advogada declarada da permanência britânica na UE. Uma primeira sondagem, do instituto Survation para o Mail on Sunday, que editorialmente defende o Ficar, dá a esta opção 45% das intenções de voto enquanto o brexit (campo do não à UE) obtém 42%. Os indecisos estão na casa dos 13%. A segunda sondagem, do instituto YouGov para o Sunday Times, que defende a saída, dá 44% ao sim à permanência e 43% ao não. A quota de indecisos é de 11%. Ambas as sondagens foram realizadas por inquérito telefónico e os trabalhos decorreram nas últimas quinta e sexta-feira, mas a morte da deputada trabalhista não terá influenciado as opiniões dos inquiridos, pelo menos no caso da realizada pelo YouGov, segundo um responsável deste instituto citado ontem pela Reuters.

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Para um dos principais porta-vozes do campo do não à UE, o eurocético Nigel Farage, a morte de Cox "teve um impacto em todas as campanhas". Farage considerou que para os defensores do Sair foi negativo: "estávamos a ganhar terreno até suceder essa horrível tragédia", disse em declarações à ITV.

A consolidação, ainda que por valores mínimos, do campo da permanência estará essencialmente associada ao receio de consequências económicas negativas para o Reino Unidos e seus cidadãos, como tem sido incessantemente martelado pelo primeiro-ministro David Cameron, o ministro das Finanças George Osborne, o Banco de Inglaterra e o FMI, assim como dirigentes e economistas estrangeiros.

O ontem, quer em declarações à BBC e ao Sunday Times , além de um texto de opinião no Sunday Telegraph, Cameron insistiu que o Reino Unido fará uma "opção" na próxima quinta-feira da qual "não haverá volta a dar". Para o chefe do governo conservador, cujo partido está dividido entre os campos do Ficar e do Sair, "se avançarmos [no brexit] e rapidamente nos dermos conta de que foi um grande erro, não poderemos mudar de ideias e ter uma segunda oportunidade", escreveu Cameron.

Em resposta a uma pergunta do auditório da BBC sobre o impacto na economia, Cameron lembrou que quase metade das exportações - "44% - vai para a UE e que uma saída reduziria o valor das trocas comerciais e teria implicações negativas no crescimento da economia, "com uma quebra de 20 a 40 mil milhões de libras [25 a 50 mil milhões de euros] nas Finanças públicas. O que forçaria aumentos de impostos no Orçamento de 2017, como anunciou Osborne. No que foi de imediato criticado por 57 deputados do partido, defensores do brexit, avisando que votariam contra a medida - o que abriria uma crise pondo em xeque o governo.

Quanto às divisões que marcaram o partido na campanha, o chefe do governo procurou desmontar os argumentos das principais personalidades nas fileiras conservadoras, como o ex-mayor de Londres e considerado candidato à liderança do partido em 2020, Boris Johnson, ou o atual ministro da Justiça, Michael Gove, acusando-os de manipularem argumentos e de acenarem com vantagens "irreais" para os britânicos em caso de vitória do campo do brexit.