21 agosto 2018 às 16h38

Otavio liderou campanha das Diretas Já e reforma editorial

Atuante no jornal desde os 17 anos, assumiu a direção de redação em 1984.

Folha de São Paulo

Otavio Frias Filho começou a se envolver com o jornal dez anos antes e participou das mais importantes decisões que transformaram a Folha no principal jornal do país.

Em 1974, durante a ditadura, Otavio estava na reunião em que seu pai, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), decidiu abrir as páginas do jornal a articulistas de várias correntes políticas. A conversa aconteceu nos Estados Unidos, para onde o então estudante de 17 anos havia viajado para assistir a um seminário de jornalismo ao lado de Cláudio Abramo, diretor da Folha e seu primeiro mentor intelectual na profissão.

Um ano depois, a Folha lançou a sua página de opinião, que começou a lhe angariar prestígio entre os intelectuais.

Em 1981 e 1982, convivendo intensamente com os editorialistas e a direção de redação, Otavio organizou a elaboração de dois documentos que anteciparam as diretrizes editoriais cristalizadas no Projeto Folha, lançado em 1984. Informação correta, interpretação competente e pluralidade de opiniões eram os seus pilares.

Também esteve à frente da campanha pelas eleições diretas para presidente, em 1983, que consolidaram a Folha como o jornal das Diretas Já. Otavio, no entanto, sempre negou ser o autor da proposta. Dizia que o mérito da Folha "foi dar visibilidade mais clara ao movimento e entrar na campanha antes dos outros".

O convite para ser diretor de redação foi feito por seu pai em uma tarde de 1984, na sala da presidência, no nono andar da sede do jornal. Foi uma conversa rápida. Octavio Frias disse ao filho: "Você está preparado, acho que deveria assumir."

Otavio frequentava o jornal desde criança. Nas férias, vinha com o pai para a empresa, e com dez anos já o acompanhava em viagens de negócios. Interessado em história e português, mostrava afinidade com a atividade editorial.

Aos 13, acompanhava o noticiário internacional e começou a frequentar esporadicamente o jornal. Cursando a Faculdade de Direito da USP, passou a vir todo dia útil.

Seu objetivo não era, porém, tornar-se diretor da Folha, disse ele em entrevista em 2010: "Sempre pensei em fazer carreira intelectual, académica. Pensei até em fazer carreira política, mas nunca pensei propriamente em atuar aqui."

Foi num jantar de família, por volta de 1981, que seu pai tocou pela primeira vez no assunto. "Ele me disse algo como: 'Olha, você é uma pessoa que tem propensão ao jornalismo, tem certas aptidões. Poderia ser um editor. A Folha poderia se desenvolver se você tivesse uma atitude mais decidida em relação ao jornal, se fosse menos distante do que tem sido'."

Otavio dizia lembrar-se da conversa como um momento chocante: "Fiquei muito abalado com a maneira com que meu pai colocou as coisas. E começou a crescer a ideia de que seria uma covardia eu me furtar, não digo à obrigação, porque ele nunca colocou como uma obrigação, mas à possibilidade de aproveitar essa oportunidade. Uma oportunidade de circunstâncias fortuitas, o nascimento, a família. A partir daí, comecei a levar mais a sério a ideia de ter uma atuação mais profissional no jornal."

Antes de responder ao convite do pai, Otavio passou uma semana em Buenos Aires, refletindo. Tinha 27 anos e antecipava que aceitar o cargo significaria uma mudança radical em seus planos académicos. "Viriam tempos difíceis pela frente. Mas sabia que, se não aceitasse, ficaria o resto da vida me acusando de ter sido omisso e covarde."

Seu nome saiu pela primeira vez com o título de diretor na edição de 24 de maio de 1984. Seu primeiro compromisso ocorrera um dia antes, uma reunião com chargistas que queriam aumento.

Desde o começo, dedicou-se ao planejamento de longo prazo, seja porque acreditava ter uma limitação como jornalista - por nunca ter trabalhado como repórter ou na produção -, seja porque preferia se dedicar a um horizonte mais distante.

Como ele antecipara, não foram tempos fáceis. Era um período de muita politização, a abertura estava se consolidando, e houve resistência à sua direção. "A presença do filho do proprietário como responsável por uma das grandes redações era considerada um retrocesso político e profissional", relatou.

Os conflitos duraram três anos, até que o Projeto Folha consolidasse a profissionalização almejada por Otavio.

Sua prioridade era construir as bases para o futuro: consolidar um projeto editorial e um manual, implantar um sistema de avaliação e a contratação por concurso, entre outras medidas que já eram comuns no mundo corporativo, mas totalmente ausentes de ambientes jornalísticos.

No seu primeiro projeto editorial publicado, em 1984, a Folha assumiu sua condição de produto e se declarou um jornal "crítico, pluralista, apartidário e moderno". O manual, as metas e as cobranças de resultado eram também ferramentas para mudar rapidamente o tipo de jornalismo que se fazia na Folha.

Já em 1988, Otavio defendia que as regras não deveriam ser vistas como uma camisa de força permanente, mas um recurso provisório, na direção de textos e análises mais sofisticados.

Foi um ano e meio depois de sua posse como diretor, em outubro de 1985, que a circulação da Folha ultrapassou a de O Globo pela primeira vez e ela se tornou o jornal mais vendido do país. No projeto editorial do ano seguinte, Otavio lembrava que a redação havia contribuído para o êxito, mas repetia uma exortação que esteve na base de todas as suas orientações: "É preciso não se acomodar."