24 fevereiro 2016 às 00h05

Obama impõe fecho de Guantánamo como tema de campanha

Republicanos não aceitam plano do presidente para encerrar a prisão na base norte-americana em Cuba, onde ainda estão 91 detidos

Susana Salvador

Este é um "capítulo da história" que Barack Obama está a tentar fechar desde que chegou à Casa Branca, em 2009. Mas a avaliar pelas reações ao plano que ontem apresentou, também não é desta que o presidente dos EUA conseguirá fechar a prisão na base de Guantánamo, onde ainda estão detidos 91 suspeitos de terrorismo. O principal problema é que será preciso transferir cerca de 60 prisioneiros para território norte-americano e tal é proibido por lei. Obama promete usar "todas as ferramentas legais" para desbloquear a situação, estando a considerar até uma ação executiva, garantindo que o tema marcará a campanha para a sua sucessão.

"O plano que estamos a apresentar não é apenas para fechar a prisão de Guantánamo", disse ontem Obama. "É para fechar um capítulo da nossa história", explicou. A prisão e os fatos cor de laranja usados pelos detidos passaram a ser sinónimo de violações de direitos humanos. "Manter esta prisão aberta é contrário aos nossos valores", acrescentou o presidente norte-americano, dizendo que a situação é "uma nódoa" e "enfraquece" a posição dos EUA no mundo.

Quando Obama chegou à presidência havia um total de 242 presos em Guantánamo, que ao longo dos anos foram sendo transferidos para 25 países (incluindo dois sírios que vieram para Portugal logo em 2009). O plano ontem apresentado inclui a transferência de 35 dos 91 que ainda restam (e cujos acordos de transferência estão quase terminados) e rever a situação dos restantes periodicamente para ver se ainda é necessário continuarem detidos.

O problema é que a transferência de várias dezenas de prisioneiros não é recomendada, pelo que o presidente quer chegar a acordo com o Congresso para os enviar para uma prisão civil ou militar nos EUA. Segundo as contas do plano elaborado pelo Pentágono, preparar as novas instalações e efetuar as transferências iria custar entre 290 e 475 milhões de dólares este ano (entre 262 e 430 milhões de dólares), mas depois disso seria possível poupar anualmente cerca de 180 milhões de dólares (163 milhões de euros).

Corrida à Casa Branca

O plano enumera 13 potenciais locais para a transferência dos detidos, sem os identificar. No passado, o Pentágono confirmou ter visitado instalações no Colorado, Carolina do Sul ou Kansas, mas a Casa Branca terá querido evitar especificá-los por causa da corrida eleitoral para escolher o sucessor de Obama. O tema faz parte desde o primeiro dia da campanha, mas promete agora voltar ao centro do debate.

Os candidatos democratas estão com Obama, considerando que Guantánamo é "um embaraço", mas os republicanos são contra o encerramento da prisão. O senador Ted Cruz defende até aumentar a capacidade para acolher mais suspeitos. O candidato de origem cubana disse ainda temer que Obama, que no próximo mês será o primeiro presidente dos EUA a visitar Cuba em quase 80 anos, queira devolver a base aos cubanos. Washington diz que isso não está em cima da mesa, apesar dos pedidos de Havana.

"Nem devíamos estar a libertar as pessoas que estão lá agora. São combatentes inimigos", reagiu o senador Marco Rubio, falando aos apoiantes em Las Vegas. O Nevada foi ontem palco dos caucus republicanos. Quando fazia campanha na Carolina do Sul, antes das primárias do fim de semana, Donald Trump prometeu lutar contra qualquer plano para mover os prisioneiros para aquele ou outro estado.

John McCain, adversário de Obama em 2008 e atual líder do comité das Forças Armadas no Senado, criticou a estratégia do presidente, considerando que o plano não é "credível" para fechar Guantánamo "e muito menos uma política coerente para lidar com futuros terroristas detidos". Antigo prisioneiro de guerra durante o conflito no Vietname, o senador é um dos poucos republicanos que tem defendido o encerramento de Guantánamo. Ontem, disse que Obama "perdeu uma grande oportunidade de convencer o Congresso e o povo americano de que tem um plano para fechar" a prisão na base em Cuba.