Mais de 500 rapazes sofreram abusos em coro católico dirigido pelo irmão de Ratzinger

Coro de Ratisbona era dirigido pelo irmão do papa Bento XVI. Igreja católica já prometeu indemnização
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Pelo menos 547 rapazes foram abusados física e sexualmente no coro e escola da Catedral de Ratisbona, no sul da Alemanha, entre 1945 e os anos 90, informa uma relatório da investigação divulgado esta terça-feira. O diretor deste coro, entre os anos 1964 e 1994, era Georg Ratzinger, irmão do papa emérito Joseph Ratzinger, que adotou o nome de Bento XVI.

Segundo o advogado Ulrich Weber, que investigou o caso e divulgou o relatório, os alunos mais abusados eram os do terceiro e quarto anos da escola primária e os agressores eram os padres e os professores. Há registo de pelo menos 67 casos de abuso sexual e 49 membros da igreja acusados.

"Os afetados descreveram os anos escolares como uma prisão, um inferno e como um campo de concentração", disse o advogado, citado pela Deutsche Welle. "Muitos se referiram a esses anos como a pior época das suas vidas, caracterizada pelo medo, a violência e o desamparo".

As acusações de abusos sexuais no coro surgiram em 2010 e, em 2013, mais de 400 homens diziam ter sido vítima destes mesmos abusos na Catedral de Ratisbona.

Ulrich Weber tem defendido que Georg Ratzinger provavelmente sabia do que se passava na igreja, mas o diretor do coro sempre negou.

"Se tivesse tido conhecimento dos excessos de violência que se estavam a passar teria feito algo", disse Georg Ratzinger numa entrevista em 2010. "Peço perdão às vítimas", continuou o ex-diretor do coro.

Alexander Probst, uma das primeiras vítimas a denunciar o caso, contou ao Deutsche Welle que entrou na escola católica em 1968. Nos primeiros anos, durante a escola primária, os abusos eram apenas físicos - " era insultado e espancado regularmente" - , e só quando passou para o ensino secundário começaram os abusos sexuais.

O professor obrigava os alunos a beberem cerveja, a fumarem e a ver pornografia e depois ia visitá-los nos dormitórios à noite. Agora, com a publicação deste relatório, Probst diz que pode seguir em frente.

"Eu encontrei a minha paz e isso significa que espero que aqueles que estão do outro lado [que cometeram os crimes] também possam encontrar a paz", disse o homem numa entrevista.

No ano passado, a igreja católica ofereceu uma indemnização entre cinco mil e 20 mil euros às vítimas.

O advogado que divulgou o relatório espera que o documento ajude as vítimas a terem paz e a lidarem com os traumas.

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