29 maio 2017 às 20h28

"Eles nem me conheciam e perderam a vida por minha causa"

Adolescente de 16 anos foi ameaçada e viu os homens que a tentaram ajudar a serem esfaqueados e mortos

DN

Uma das jovens envolvidas no incidente de sexta-feira que resultou na morte de dois homens num comboio em Portland, Estados Unidos, e um terceiro homem ferido, agradeceu aos heróis que a defenderam durante um ataque racista e xenófobo.

"Eu só queria agradecer às pessoas que se puseram em risco por mim, porque eles nem me conheciam e perderam a vida por minha causa, por causa da minha amiga e por causa da nossa aparência", disse Destinee Mangum, de 16 anos.

"Sem eles provavelmente estaríamos mortas", continuou, a chorar.

A jovem negra estava num comboio com uma amiga muçulmana que usava um hijab, lenço islâmico que tapa a cabeça, quando Jeremy Joseph Christian, de 35 anos, começou a insultá-las. Christian gritou no comboio que "todos os muçulmanos deviam morrer".

"Ele disse-nos para voltarmos para a Arábia Saudita, que não devíamos estar ali e para sairmos do país dele", contou Magnum, que não é muçulmana, numa entrevista à KPTV.

[citacao:Ele estava a dizer-nos que nós não valíamos nada e que nos devíamos matar]

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Três homens tentaram defender as adolescentes e foram esfaqueados por Christian, um apoiante do movimento "alt-right", de extrema-direita. Ricky John Best, um veterano de guerra de 53 anos com quatro filhos, e Taliesin Namkai-Meche, um jovem de 23 anos recém-licenciado em economia, não resistiram aos ferimentos.

Segundo Destinee, um dos homens disse: "não podes desrespeitar estas jovens desta forma" e depois "todos começaram a discutir".

"Eu e a minha amiga íamos sair do comboio e depois olhámos para trás enquanto eles lutavam e ele começou a esfaquear os outros", continuou a adolescente.

[citacao:Havia sangue em todo o lado e nós começámos a correr pela nossa vida]

A mãe de Destinee, Dyjuana Hudson, disse estar eternamente agradecida aos homens que morreram e que tem uma dívida enorme com as suas famílias agora.

"Eu queria dizer obrigada", disse Dyjuana, numa mensagem às famílias das vítimas. "Não consigo imaginar aquilo pelo que estão a passar agora por terem perdido alguém e lamento que tenha sido à custa da minha filha".

Christian tinha cadastro policial e nos últimos meses publicava e partilhava na internet material racista, antissemita e neonazi. Foi agora acusado de homicídio e de crimes de ódio.

Este incidente está a chocar os Estados Unidos e várias pessoas criticaram o presidente Donald Trump por não ter reagido logo. Utilizadores acusavam Trump, que entretanto fazia publicações no Twittter, de não comentar pois o ataque não fora da autoria de um terrorista islâmico.

O jornalista Dan Rather pediu num longo texto publicado no Facebook uma declaração de Trump, solicitando-lhe que reconheça os "corajosos americanos que morreram às mãos de alguém a quem, quando todos os factos forem conhecidos, poderemos ter o direito de chamar terrorista".

"Chamem-me louco, mas se um muçulmano tivesse matado dois cristãos brancos em Portland suspeito que o nosso presidente teria dito alguma coisa", escreveu outro utilizador no Twitter.

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Trump comentou o incidente esta segunda-feira e escreveu no Twitter: "Os ataques violentos em Portland na sexta-feira são inaceitáveis. As vítimas fizeram frente ao ódio e à intolerância. As nossas orações estão com eles"

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