Eram 05.00 da manhã de ontem quando Bernie Sanders embarcou num avião para o New Hampshire. No Iowa ainda se contavam os votos que acabariam por dar uma curtíssima vitória a Hillary Clinton nos caucus democratas da véspera, mas o senador do Vermont já estava com os olhos postos no estado onde no dia 9 se realizam umas primárias agora ainda mais decisivas. É que o autoproclamado socialista democrático aposta no fator casa - representa o vizinho Vermont - para desta vez ganhar e acabar com a inevitabilidade da candidatura da ex-primeira-dama às presidenciais de 8 de novembro.
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Tarefa mais difícil tem Ted Cruz. O senador do Texas foi o homem da noite no Iowa ao vencer os caucus republicanos e contrariar todas as sondagens que o colocavam atrás de Donald Trump na corrida à nomeação do partido para a Casa Branca. Mas no New Hampshire o evangélico Cruz tem sete dias para convencer um eleitorado mais urbano, mais moderado e bem menos religioso do que o do Iowa.
Rodeado da mulher e das duas filhas pequenas, Cruz saudou uma "vitória dos conservadores corajosos". Filho de um cubano e de uma americana, o senador do Texas viu o nascimento no Canadá ser usado contra ele por Trump na campanha. Mas no momento de votar, os eleitores do Iowa parecem ter castigado o milionário e estrela do reality show The Apprentice que se notabilizou na campanha pelas declarações polémicas - seja sobre os imigrantes mexicanos, as mulheres ou os muçulmanos. No final da noite, Trump comentou o resultado com um contido: "Acabámos em segundo lugar e devo dizer que me sinto honrado."
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Considerado como o grande derrotado da noite, é verdade que Trump quebrou o feitiço que parecia ter lançado sobre o eleitorado. Resta saber como se vai agora portar no New Hampshire. Para muitos analistas, o Iowa foi um deslize na corrida de Trump para a nomeação republicana, mas não foi o fim do sonho presidencial do magnata. A revista Slate garantia em título: "Trump ainda não está morto". E explicava que o Iowa "nunca foi terreno favorável para o populismo" do milionário, acrescentando que este "tem mais apelo junto das classes trabalhadoras das áreas rurais do Sul profundo e no Nordeste, mais secular". Segundo a revista, o New Hampshire é mais propício a uma vitória do magnata. As sondagens confirmam-no, com a última da CNN a dar-lhe 30% das intenções de voto, contra 12% para Cruz.
Mas as sondagens por vezes enganam-se. Como se viu no Iowa. Além disso, a escolha dos nomeados de cada partido às presidenciais americanas é um processo longo, que passa por todos os estados organizarem primárias. Cada candidato vai acumulando delegados que depois se juntam nas convenções dos partidos, marcadas para julho. Dali sai o nomeado (geralmente o vencedor é conhecido bem mais cedo, com um dos candidatos a ter tamanha vantagem em termos de delegados que já garantiu a nomeação) que depois vai disputar com o nomeado do partido adversário as eleições de novembro.
Num país com mais de 320 milhões de habitantes e estados tão diversos como Nova Iorque, Texas ou Minnesota, prever o vencedor quando apenas um votou é claramente prematuro. Mas o Iowa e o New Hampshire, por serem os primeiros, não só atraem todas as atenções como ajudam a definir tendências. E causam baixas. Foi o caso de Martin O"Malley. O ex-governador do Maryland não chegou a 1% dos votos no Iowa e suspendeu a candidatura, deixando os democratas numa corrida a dois. Do lado republicano, o ex-governador do Arkansas Mike Huckabee foi nono nos caucus e também desistiu.
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Surpresa Rubio e desilusão Bush
O primeiro a cantar vitória no Iowa foi Marco Rubio. O senador da Florida foi terceiro, mas pisou os calcanhares a Trump, ficando a apenas um ponto do milionário. Em palco, entre música e abraços da família, não faltou quem visse na celebração de Rubio semelhanças com o democrata Bill Clinton, que, em 1992, tendo ficado em segundo no New Hampshire, se definiu ali como o comeback kid, relançando uma campanha que o levaria à Casa Branca. Perante dois adversários sem medo das palavras e conhecidos por não temerem desafiar o partido, o jovem senador espera agora conquistar o voto do establishment e dos republicanos mais moderados.
A tarefa de Rubio pode ficar mais fácil se se confirmar o descalabro de Jeb Bush. O antigo governador da Florida, que entrou na corrida à nomeação republicana como um dos favoritos, ficou em sexto nos caucus do Iowa, confirmando mau momento da sua candidatura. Filho e irmão de presidentes, Bush não se dá, no entanto, por vencido e ontem no New Hampshire recordou a sua experiência como governador, sublinhando o sucesso dos cortes nos impostos que criou na Florida. Se vai chegar para recuperar, ninguém sabe, mas não seria o primeiro a perder no Iowa e conseguir a nomeação, basta pensar em John McCain, que em 2008 não passou no quarto lugar nos caucus.