18 janeiro 2017 às 14h59

Ataque aéreo a campo de refugiados por engano causou 70 mortos, diz Cruz Vermelha

Cruz Vermelha diz que há mais de 100 feridos. A força aérea nigeriana bombardeou um campo de refugiados achando que era uma base do grupo terrorista Boko Haram

DN/Lusa

O Comité Internacional da Cruz Vermelha adiantou hoje que pelo menos 70 pessoas morreram no ataque aéreo ao campo de refugiados na Nigéria bombardeado por engano pela força aérea nigeriana, mas outras fontes falam em mais de 100 mortos.

Um responsável do governo nigeriano disse à Associated Press que o ataque aéreo (um erro do piloto nigeriano) contra o campo em Rann matou mais de 100 pessoas (entre refugiados e funcionários das organizações humanitárias), um número muito superior às 52 vítimas mortais confirmadas terça-feira pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF).

A MSF - que opera no campo de refugiados de Rann (estado do Borno) - também deu conta de 120 feridos. Seis funcionários da Cruz Vermelha nigeriana morreram no ataque.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha afirmou hoje que o novo balanço das vítimas dá conta de 70 mortos e mais de uma centena de feridos.

Também indicou que 46 feridos "muito graves" continuam no campo, à espera de serem retirados para tratamento médico.

O ataque ocorreu às 09:00 locais (08:00 em Lisboa) de terça-feira, quando um avião da força aérea nigeriana bombardeou por erro um campo de refugiados de Rann, no nordeste da Nigéria.

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O estado do Borno é o epicentro da insurreição armada dos islamitas do grupo Boko Haram. O ataque aconteceu quando os trabalhadores humanitários distribuíam alimentos aos refugiados.

"Nas últimas semanas, o Boko Haram deslocou a sua base de operações da floresta de Sambisa para Kala e um avião militar confundiu Rann com Kala", disse à AFP um habitante local.

A organização Human Rights Watch (HRW) apelou ao governo nigeriano para que compense as vítimas dos bombardeamentos.

O investigador Mausi Segun, da HRW, sustentou que o bombardeamento pode não ter sido intencional - o que constituiria um crime de guerra - mas foi "um bombardeamento indiscriminado, em violação da lei humanitária internacional".

De acordo com Segun, mesmo que se diga que o ataque foi acidental isso não significa que as vítimas não têm direito a uma reparação.

As autoridades do Estado do Borno puseram em marcha um "plano de urgência médica", colocando em estado de alerta hospitais públicos, médicos e ambulâncias em Maidiguri, a maior cidade da região.

A Cruz Vermelha internacional enviou um helicóptero para retirar as vítimas do campo de Rann para Maiduguri. Já a MSF ficou encarregada de coordenar a resposta médica, indicou Isa Gusau, porta-voz do governo do estado.

Rann alberga 43 mil deslocados, muitos "severamente subnutridos".