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10 março 2019 às 14h05

Guiné-Bissau: primeiro-ministro fala da "muita emoção" e presidente de um "campeão da liberdade"

Principais figuras da Guiné-Bissau já votaram nas legislativas.

DN/Lusa

A porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau, Felisberta Vaz, afirmou este domingo que a votação para as legislativas decorre "globalmente bem" em todo território nacional, salvo "pequenos problemas" que foram resolvidos.

Hoje, mais de 761 mil eleitores votam nas legislativas da Guiné-Bissau que tentam pôr fim a uma crise política que dura há quatro anos.

Primeiro-ministro votou com "muita emoção"

O primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, disse este domingo estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", mas cheio de "pedagogia".

"Foi com muita emoção [que votei], porque desta vez o processo de organização das eleições decorreu num contexto de tensão, porque cada ator político por estar tenso, estava vigilante e havia uma situação de crise, de intensas negociações. Foi um processo que foi difícil, como sabem foi necessária a intervenção da comunidade internacional", afirmou aos jornalistas Aristides Gomes, depois de votar no centro da cidade de Bissau.

O primeiro-ministro salientou também que o processo foi um "exercício difícil", mas "cheio de pedagogia", mas, depois "desta travessia do oceano", os guineenses "estão na praia".

Presidente diz que Guiné-Bissau é "campeão da liberdade"

O presidente guineense, José Mário Vaz, disse este domingo que a Guiné-Bissau é o "campeão da liberdade", depois de votar para as legislativas no centro da capital.

"É desta vez que isto está a acontecer sem mortes, sem espancamento, sem golpes de Estado, sem prisões arbitrárias, sem prisioneiros políticos, e com liberdade de expressão, de manifestação e imprensa. Considero a Guiné-Bissau hoje campeão da liberdade e estou feliz por esse facto e dizer que, neste momento, não há refugiados e não exilados políticos", afirmou José Mário Vaz às dezenas de jornalistas presentes no local.

José Mário Vaz - que fez a pé o trajeto entre o Palácio Presidencial e o edifício da UDIB, onde votou, acompanhado por seguranças - afirmou estar feliz, recordando que desde 1994, quando se realizaram as primeiras legislativas, nunca nenhuma legislatura tinha chegado ao fim.

"Testemunhem esta situação: é um país diferente, é um país de liberdade, onde não há espancamentos, não há problemas na Guiné-Bissau", disse.

PAIGC diz que eleições representam "um momento de viragem"

O líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) disse hoje, depois de votar, que espera uma "viragem de página" e saudou a recente apreensão de 800 quilos de cocaína, sinal de que é preciso "resgatar o país" do tráfico.

Domingos Simões Pereira afirmou sentir-se feliz por ter exercido o seu direito de voto, mas salientou que estas eleições "são mais que um cumprimento de dever cívico" por representarem "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".

Com as eleições de hoje, "temos a oportunidade de acabar de uma vez por todas" com esse problema, disse o dirigente do PAIGC, que enalteceu a adesão do povo guineense ao processo eleitoral e a resposta dada perante as propostas apresentadas pelo seu partido, para "um percurso que honre" o país.

Pereira disse acreditar "plenamente na vitória" do PAIGC e apelou para que todos os guineenses se empenhem "para tirar o país do lamaçal" que disse ser a Guiné-Bissau. Domingos Simões Pereira votou no bairro de Lunda, arredores de Bissau.

Líder do Madem fala na "hora da mudança".

O líder do Movimento para Alternância Democrática (Madem) da Guiné-Bissau, Braima Camará, afirmou este domingo ter votado para fazer parte "da hora da mudança" e condenou quaisquer atividades criminosas no país como é o caso de tráfico de droga.

Candidato a primeiro-ministro guineense, Camará afirmou que o Madem "tem pessoas competentes" para restituir dignidade "que a Guiné-Bissau merece". Quanto à votação, o líder do Madem disse estar confiante na vitória e espera constituir-se "na maior surpresa" na Guiné-Bissau que disse estar na sua hora da mudança.

"Estou convencido que o valoroso e combatente povo da Guiné-Bissau definitivamente vai encontrar o seu caminho", sublinhou Braima Camará, que vinha vestido com um "boubou" (uma grande túnica) branca e um chapéu da mesma cor, indumentária, normalmente, utilizada pelos líderes ou chefes religiosos muçulmanos em África.

Camará não tem dúvidas de que o Madem "vai consolidar a sua marcha histórica", iniciada com a campanha eleitoral, para dar ao povo guineense melhor educação, saúde, agricultura e infraestrutura, entre outras realizações, disse.

O líder do Madem, partido constituído em 2018, por dissidentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) acusou ainda o atual primeiro-ministro, Aristides Gomes, de tentativa de compra de votos de eleitores no leste do país, de onde, disse, aquele ter sido "corrido e humilhado" pela população.

Para Braima Camará "é vergonhoso" a atitude de Aristides Gomes, acusando-o de corrupção eleitoral "ao alto nível": "Isso não se faz em lado nenhum", observou Camará.

PRS fala em "balão de oxigénio"

O líder do Partido da Renovação Social (PRS), Alberto Nambeia, disse que a votação de este domingo constitui um "balão de oxigénio" para o povo guineense que pretende ver mudanças no país, após um impasse político de quatro anos.

Após votar em Mansoa, a 60 quilómetros a norte de Bissau, onde também é candidato à deputado, o líder do segundo maior partido do país disse estar confiante na vitória do PRS, a única solução para "tirar o país deste ciclo de instabilidade constante".

"Espero que tudo corra bem e que o país tenha um balão de oxigénio", declarou o líder do PRS, que a seguir visitou várias mesas de voto em Mansoa e nas localidades arredores, um bastião do partido.

"Acabei de votar e constatei a afluência dos eleitores. Penso que desta vez as pessoas estão a votar pela mudança no país", sublinhou Nambeia, reforçando a confiança na vitória do seu partido.

No comício de encerramento de sexta-feira, após 21 dias de campanha eleitoral, o líder do PRS disse acreditar que o seu partido vai ganhar as legislativas com 72 dos 102 deputados que compõem o parlamento guineense.