França reconhece tortura e morte durante a guerra da Argélia

Emmanuel Macron admite responsabilidade do Estado no desaparecimento de um matemático comunista, ativista pela independência do país do Norte de África, durante a guerra colonial francesa

Numa decisão considerada histórica, o Presidente francês, Emmanuel Macron, deverá assumir publicamente a responsabilidade do estado na tortura e morte, em 1957, de Maurice Audin, durante a guerra da Argélia.

"O Presidente da República decidiu que é chegado o momento de a nação assumir a verdade sobre esta indivíduo", indica um excerto da declaração que deverá ser tornada pública hoje pelo Palácio do Eliseu. Na referida declaração, citada pelo Le Monde, é assumido que Maurice Audin, professor universitário e matemático, comunista e militante da independência da Argélia, terá sido "torturado e executado ou torturado até à morte, depois de ter sido preso em casa por militares", em plena batalha de Argel.

Oficialmente, Audin era ainda apontado como um dos muitos desaparecidos da batalha de Argel, e o seu corpo nunca foi encontrado, mas há muito que existia a versão de que teria sido assassinado, num ataque deliberado levado a cabo por paraquedistas franceses.

A atitude de Macron está a ser comparada ao discurso feito, em 1995, pelo então Presidente Jacques Chirac, no qual este reconheceu a responsabilidade francesa na rusga do Velódromo de Inverno de Paris (Vel' D'Hiv). Um incidente ocorrido em julho de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, em que, cumprindo as ordens dos ocupantes nazis, foram presos mais de 13 mil judeus, um terço deles crianças, a maioria dos quais acabaram por ser arrebanhados durante quatro dias naquele pavilhão desportivo antes de serem mortos ou deportados. Apenas uma centena viria a sobreviver.

De resto, o próprio Macron também reforçou a responsabilidade do país naquela tragédia, em 2017, ao afirmar: "Foi a França que organizou e tratou da deportação de milhares de crianças para campos de concentração".

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG