"É uma opção". Exército alemão admite recrutar cidadãos europeus
Sete anos depois de a Alemanha ter posto fim ao serviço militar obrigatório, a chefe de Estado Maior do Exército, Eberhard Zorn deu agora uma entrevista na qual garantiu que contratar cidadão dos outros 27 Estados da UE para cargos de perito é "uma opção"
Até 2025, as forças armadas alemãs comprometeram-se a aumentar os seus efetivos em 21 mil pessoas. Para tal, o chefe do Estado Maior do Exército Eberhard Zorn garantiu que o país está a "olhar em todas as direções para compensar a falta de pessoal qualificado", como médicos ou especialistas em cibersegurança. Uma dessas direções é a União Europeia.
Em entrevista ao jornal Funke, Zorn admitiu que o exército alemão precisa de pessoal e que é preciso encontrar "uma nova geração" de militares. Mas explicou que colocar o uniforme alemão em cidadãos da União Europeia só acontecerá em casos específicos.
Para já, o governo de Berlim estará a fazer contactos com os restantes Estados-membros, mas as respostas têm sido cautelosas, sobretudo na Europa de Leste, avança a BBC.
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A ideia de recrutar estrangeiros não é nova. O exército britânico já o faz. No mês passado abriu os concurso a mais estrangeiros que nunca viveram no país. Tudo para cumprir a falta de 8200 soldados, marinheiros e elementos da Força Aérea.
Pressionada pelos EUA de Donald Trump para atingir a meta de 2% do orçamento em Defesa - um limite com o qual os membros da NATO se comprometeram mas que muitos não respeitam -, a Alemanha concordou em passar os gastos com a defesa de 1,2% para 1,5% do PIB até 2024.
A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, explicou que neste momento o exército alemão conta com 182 mil efetivos, um aumento de 6500 nos últimos dois anos. Até 2025 esperam chegar aos 203 mil.
Nacionalidade alemã
De acordo com as leis alemãs estabelecidas depois da derrota dos nazis na II Guerra Mundial, os soldados do exército alemão têm de ter nacionalidade alemã. Apesar disso, nos últimos anos tornou-se "normal" recrutar cidadãos da UE para funções específicas. Uma realidade que se reforçou pelo facto de vários alemães terem dupla nacionalidade ou serem filho de imigrantes.
Empenhada em ter 70% da sua capacidade de combate operacional, notícias recentes mostraram que a Alemanha não tem atingido essa meta. Segundo o Die Zeit, só um terço dos 97 tanques, dos aviões de combate e dos helicópteros do país estão operacionais.
A falta de meios ficou patente durante a viagem da chanceler Angela Merkel até à Argentina, em novembro, para participar na cimeira do G20. A chefe do Governo alemão teve de apanhar um voo comercial quando o avião militar (um dos dois delongo curso à disposição das forças armadas alemãs) em que seguia teve uma avaria que a obrigou a aterrar em Colónia.
Desinvestimento nas Forças Armadas
Para a maior economia europeia, pode parecer estranho ter umas forças armadas tão mal equipadas. Mas tudo se explica com a derrota na II Segunda Mundial que levou o país a desinvestir das suas forças armadas. Após a reunificação entre a Alemanha de Leste e a Alemanha Ocidental, em 1990, o exército ainda foi mais reduzido, de 486 mil para 168 mil em 2015. Sem uma ameaça real após o fim da Guerra Fria, os cortes na Defesa prosseguiram até 2014.
Mais recentemente, as Forças Armadas alemãs desempenharam pequenos papéis no Kosovo e no Afeganistão, como parte do contingente da NATO. Mas a crescente influência da Rússia, com o envolvimento no Leste da Ucrânia e a anexação da Crimeia e a ascensão do Estado Islâmico na Síria viriam a alterar esta situação.
Uma sondagem divulgada em novembro mostra que 43% dos alemães defendem mais gastos em defesa. Em 2017 eram 32%.