Europa atacada e dividida

É abusivo juntar o terror em Londres com a polémica de Dijsselbloem na véspera? Sim, se virmos nas duas situações sinónimos, não se percebermos que ambas são avisos a levar a sério.

Londres foi o refúgio de Guilhermina e do resto da família real holandesa aquando da invasão nazi de 1940. Mais do que nunca, o Reino Unido de Churchill encarnava então o ideal democrático europeu, ameaçado por uma Alemanha rendida a Hitler, ignorado por uma União Soviética comprometida por medo com o nazismo e observado à distância por uma América nada interessada na Segunda Guerra Mundial.

Hoje, britânicos e holandeses justificam por um momento todas as atenções, uns porque foram alvo de mais um ataque terrorista, os outros porque têm um ministro que ataca os europeus do Sul. A lição de 1940 deveria ser a da comunhão de interesses dos povos da Europa contra os extremismos, o nazismo na época, o jihadismo nos nossos dias. Tudo o resto, as pequenas quezílias, é para ser relativizado. O que é um défice excessivo comparado com uma bomba ou um carro que avança com sanha assassina? As contas refazem-se, as vidas humanas não.

É abusivo juntar o terror em Londres com a polémica de Dijsselbloem na véspera? Sim, se virmos nas duas situações sinónimos, não se percebermos que ambas são avisos a levar a sério: há gente que odeia a democracia, os direitos humanos, a liberdade que faz da Europa um modelo. E há gente que ingenuamente ignora que o admirável modelo europeu, que tem raízes na Magna Carta de 1215, só pode ser defendido por uma frente unida. Para os terroristas não há brexit, como não há canal da Mancha, nem crise da dívida soberana. Só existem alvos, hoje Londres, há um ano Bruxelas, antes Paris, depois Nice, bem mais recentemente Berlim.

É o Norte que é mais atacado pelo terror e o Sul tem obrigação de ser solidário. Como o Norte tem obrigação de ser solidário quando o Sul é mais atacado pela crise financeira. Chama-se a isso ser-se europeísta, não é?

Abundam as definições de Europa: ocidental, do Atlântico aos Urais, de Lisboa a Vladivostoque. Em todas, o Reino Unido está incluído, os países em crise do Mediterrâneo também. E, claro, a Holanda da rainha Guilhermina e do senhor Dijsselbloem. Atacada, a Europa faz muito mal em estar desunida.

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