Estado de Israel acusado de matar comandante do Hezbollah

De Jerusalém não chegam reações oficiais, mas ex-conselheiro de Netanyahu mostra-se contente com morte do alto militar libanês

Terá dito, ao partir para a missão, que apenas voltaria da Síria numa de duas condições: ou com a bandeira da vitória ou como mártir. "O grande líder jihadista Mustafa Badreddine regressou como mártir", anunciou ontem o Hezbollah. Um dos mais altos comandantes militares do grupo xiita libanês morreu nesta semana numa explosão em Damasco.

Badreddine era, desde o início do conflito em 2011, o responsável pelas operações do Hezbollah na guerra da Síria. O grupo político e militar libanês, suportado pelo Irão, apoia no terreno as forças de Bashar al-Assad, o presidente que luta contra várias fações rebeldes que querem derrubar o seu regime.

"Uma enorme explosão numa das nossas bases em Damasco, perto do aeroporto internacional, levou ao martírio de Sayyid Zul Fikar [nome de guerra de Badreddine]. A investigação em curso irá determinar se foi um ataque aéreo, um míssil ou um bombardeamento de artilharia. Em breve anunciaremos as conclusões", anunciou, em comunicado, o Hezbollah.

Sem que ninguém tenha reclamado o ataque, alguns responsáveis libaneses não hesitaram em apontar o dedo ao arqui-inimigo. "Esta é uma guerra aberta e não devemos antecipar-nos à investigação, mas de certeza que Israel está por detrás disto", afirmou Nawar al-Saheli, deputado e membro do Hezbollah.

De Jerusalém não chegaram nem confirmações, nem desmentidos. Apenas satisfação. "Não sabemos se foi Israel e não nos podemos esquecer que atualmente todos os intervenientes na Síria têm muitos inimigos. De qualquer forma, do ponto de vista israelita, quantas mais pessoas como Badreddine desaparecerem da lista de mais procurados melhor", sublinhou à rádio do Exército israelita Yaakov Amidrod, ex-conselheiro do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em questões de Segurança.

Desde o início da guerra na Síria - lembra o The Guardian - que o governo israelita autorizou pelo menos oito ataques a alvos em território sírio. "A maior parte visou sistemas anti-aéreos que estariam em vias de ser transportados para o Líbano e representariam uma ameaça para as forças de Israel".

Mustafa Badreddine nasceu a 6 abril de 1961, em Ghobeiry, um subúrbio de Beirute. De acordo com informações divulgadas pelo Hezbollah, foi em 1982 que começou a tomar parte nas primeiras operações militares.

No ano seguinte foi preso e um tribunal do Kuwait condenou-o à morte por ligações aos ataques bombistas às embaixadas de França e dos Estados Unidos. A sentença nunca foi cumprida e em 1990, quando Saddam Hussein invadiu o pequeno país, Badreddine aproveitou para fugir da prisão.

Sayyed Zul Fikar era o nome de guerra. "Sayyed indicando descendência de Maomé. E Zul Fikar sendo o nome da lendária espada de Ali, o primo do profeta e uma das figuras mais reverenciadas entre os xiitas", explica o The Guardian.

Desde 2011 que Badreddine estava a ser julgado à revelia no Tribunal Especial para o Líbano, em Haia, pelo alegado envolvimento no atentado de 2005 que vitimou o então primeiro-ministro libanês Rafik Hariri. "Nos sítios por onde passa não deixa pegadas, como se fosse um fantasma impossível de reconhecer e de localizar", disseram os procuradores durante o julgamento.

Milhares quiseram dizer adeus a Badreddine, que foi ontem a enterrar em Beirute, com a bandeira amarela do Hezbollah a cobrir-lhe o caixão. Para uns, herói e mártir. Para outros, criminoso.

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