Estado de emergência em vigor após ataque no Egito
Presidente Al-Sisi decreta medidas de segurança extremas. Papa Francisco confirma deslocação ao Cairo no final do mês.
Severas medidas de segurança entraram ontem em vigor em todos os locais públicos do Egito, nomeadamente estações de transportes públicos e na capital, Cairo, em resultado do estado da emergência proclamado pelo presidente Abdel Fattah al-Sisi, horas após o duplo atentado que causou 45 pessoas em duas igrejas coptas. Os ataques, que ocorreram nas cidades de Alexandria e Tanta, foram reivindicados pelo Estado Islâmico (EI) e vieram confirmar a situação precária em que a comunidade cristã vive neste país.
Era, aliás, a profunda insatisfação com esta realidade e a dor dos familiares das vítimas de uma comunidade alvo de um outro ataque islamita em dezembro, no Cairo, e de uma campanha sistemática contra os seus membros na região do Sinai, onde o grupo islamita está particularmente ativo.
Os cristãos coptas lamentavam ontem o fracasso das forças de segurança em neutralizarem os ataques terroristas, bem como a complacência das autoridades com o tipo de argumentos que alimentam o radicalismo islamita. Um ativista da comunidade copta, Ishak Ibrahim, ontem citado no Le Monde, sublinhava a necessidade "absoluta de o Estado lutar contra este extremismo com importantes investimentos na educação. Aquilo que o governo chama hoje a renovação do discurso religioso não passa de mais uma forma de propaganda do Estado".
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As comunidades muçulmanas de Alexandria e Tanta não deixaram de exibir solidariedade para com os coptas, visitando ontem os locais onde sucederam os ataques.
O Papa Francisco, que no dia anterior enviara mensagens de condolências às famílias das vítimas, confirmou ontem, através dos serviços do Vaticano, que mantém a viagem programada para 28 e 29 de abril ao Cairo, uma deslocação realizada no quadro do diálogo islâmico-cristão.
Mas ainda não tinham passado 24 horas desde os atentados e do decreto do estado de emergência, e o EI disparava um míssil sobre território israelita, exatamente a partir do Sinai. Em resultado, Israel fechou a fronteira com o Egito nesta região, interditando a circulação dos seus cidadãos por esta passagem.
O estado de emergência foi aprovado pelo governo, como estabelece a Constituição egípcia, tendo ainda de ser ratificado pelo Parlamento, o que deve suceder hoje. A decisão de Al-Sisi originou um enorme volume de comentários nas redes sociais, com os egípcios a considerarem que vão ocorrer mais restrições aos direitos e liberdades individuais. Um dos poderes conferidos ao presidente pelo estado de emergência é o de um controlo acrescido sobre os meios de comunicação e as mensagens eletrónicas. A última vez que o estado de emergência esteve em vigor a nível nacional foi durante a presidência de Hosni Mubarak (1981-2012), tendo sido suspenso antes das presidenciais deste último ano. Após o afastamento de Mohamed Morsi, em julho de 2013, vigorou em certas regiões do Egito mais afetadas pela violência entre os elementos da Irmandade Muçulmana, a organização do presidente deposto, e as forças de segurança. Além do Sinai, por causa do EI.