Espanha em clima de campanha. O que estão a propor os partidos?
Dia 5 é dissolvido o Parlamento espanhol. Espanhóis voltam às urnas num contexto político de muita incerteza. O bipartidarismo luta pela sobrevivência num mapa político em que outras forças se impõem. O que promete cada um dos partidos?
PSOE aposta nas medidas sociais
Pedro Sánchez tem o desafio de melhorar o que foi o pior resultado de sempre do seu partido: 85 deputados nas últimas eleições de 26 de junho de 2016. E o seu objetivo é conseguir manter-se como primeiro-ministro. Sánchez quer mobilização maciça no PSOE.
O seu lema para esta pré-campanha é "A Espanha que queres": defende um país inclusivo. Afirma que, com o PSOE no poder, de novo, a próxima será "a legislatura da educação pública" e oferece aos trabalhadores independentes um país que abre caminhos. A mulher volta a centrar as atenções de Pedro Sánchez, que pretende ter um governo com maior número de ministras do que ministros.
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Para tratar do conflito territorial, Sánchez defende a Constituição Espanhola, "aberta e plural. Um ponto de encontro de convivência". A sua primeira medida se continuar no cargo será aprovar um Orçamento do Estado "social", que contempla um subsídio para desempregados com mais de 52 anos e pretende recuperar a cotização da Segurança Social para os cuidadores de pessoas dependentes.
PP promete captar negócios à boleia do Brexit

Pablo Casado, líder da oposição, candidato do PP ao cargo de primeiro-ministro de Espanha.
© Chema Moya/EPA
Pablo Casado apresenta-se pela vez primeira como candidato do PP a líder do governo. O partido político perdeu força desde a última maioria ganha por Mariano Rajoy, em 2012. O novo líder promete uma revolução fiscal se chegar à Moncloa, com uma redução de todos os impostos e a eliminação de impostos sobre o património, sucessões e doações, entre outros.
O sucessor de Mariano Rajoy quer simplificar os escalões do IRPF (o IRS espanhol), combater a economia paralela e captar o capital de empresas tecnológicas que saiam do Reino Unido depois do Brexit. Na sua opinião, vai ser possível ser mais competitivo e arrecadar mais dinheiro mesmo com a eliminação de impostos. Casado comprometeu-se também a dar licenças de atividade num prazo de cinco dias.
O PP vai centrar parte da sua campanha na criação de emprego, na reforma do campo energético e facilidades para a indústria. A educação será outro dos pilares do seu programa eleitoral, com a defesa da liberdade de escolha da escola para os filhos.
Ciudadanos recusa à partida qualquer pacto com o PSOE

Albert Rivera, líder do Ciudadanos, já exclui qualquer aliança com o PSOE.
© Chema Mora/EPA
A principal promessa de Albert Rivera na pré-campanha é o seu compromisso de não pactuar com os socialistas depois das eleições gerais do 28 de abril. O líder do Ciudadanos quer que os votos laranja sirvam para uma mudança de governo. Caso seja o seu partido a liderar o próximo executivo, Rivera quer ser o representante da classe média espanhola e formar uma equipa com pessoas com experiência em política e da sociedade civil.
O Ciudadanos reivindica para si o facto de se ter aplicado o artigo 155.º perante a ameaça dos nacionalistas catalães. O partido, nascido na Catalunha para lutar contra o independentismo, diz ter 350 soluções para mudar o país e que estas passam por reconstruir a classe média e trabalhadora, promover a união e a igualdade de todos os espanhóis, bem como por uma regeneração democrática, uma luta contra a corrupção e mais protagonismo da Espanha no mundo.
Podemos recupera a ideia de imposto para a banca

Partido liderado por Pablo Iglesias, Podemos, foi dilacerado por lutas internas depois de ter sido um dos filhos da crise financeira e económica em Espanha.
© EPA
O Podemos não passa pelo seu melhor momento, com menos força na sociedade espanhola e com uma rutura entre alguns dos seus dirigentes, nomeadamente o líder, Pablo Iglesias, e aquele que chegou a ser o seu braço direito, Íñigo Errejón. Iglesias está há meses afastado dos holofotes por estar a gozar licença de paternidade e só fará o seu regresso poucas semanas antes das eleições.
A força roxa quer um governo de esquerdas, não de minorias, porque é necessário para ter estabilidade e visibilidade no país. Entre as suas propostas estão a recuperação de um imposto para a banca para que as entidades financeiras devolvam "os 60 mil milhões de euros que subtraíram ao Estado". A Esquerda Unida, liderada por Alberto Garzón, ainda não decidiu se repetirá a estratégia eleitoral de 2016: ir a votos coligada com o Podemos.
VOX quer abolir as comunidades autonómicas

Santiago Abascal, líder do Vox, é conotado com a extrema-direita.
© Fernando Alvarado/EPA
O Vox é o partido ainda sem representação no Parlamento espanhol, mas todas as sondagens dizem que poderá ser decisivo na formação de um governo, tal como na Andaluzia. Liderado por Santiago Abascal, o Vox conta com um documento chamado "100 medidas para Espanha", no qual apresenta o seu projeto para o país.
É um grande defensor da unidade de Espanha e propõe o fim das comunidades autonómicas. Quer que o Estado recupere as competências nas áreas de Educação e Saúde, que agora têm as autonomias. O Vox é duro com os nacionalistas e pretende uma rutura com os partidos que pretendam a destruição da unidade territorial de nação.
O partido conotado com a extrema-direita quer combater os migrantes ilegais e defende a expulsão daqueles que estejam em situação irregular. É também contra a Lei da Violência de Género, por achar que esta culpa só os homens.
Actúa, o partido de Baltasar Garzón, entra na corrida

Actúa, partido cofundado pelo antigo juiz Baltasar Garzón, decidiu entrar na corrida para as eleições antecipadas de 28 de abril.
© Alexander Becher/EPA
Foi há poucos dias que o Actúa decidiu apresentar-se às eleições. Trata-se de um projeto político registado como partido em agosto de 2017, liderado pelo ex-coordenador territorial da Esquerda Unida Gaspar Llamazares e pelo ex-juiz Baltasar Garzón. Nasceu como uma plataforma de intervenção política e estava inscrita já para as europeias.
Os últimos acontecimentos na política espanhola levaram os seus dirigentes a apresentar-se às legislativas com o desejo de "representar a esquerda amável e sensata". Querem atrair os votos dos eleitores de esquerda que "estão descontentes" e contribuir para uma maioria de esquerda.
O Actúa procura a regeneração política do país, para que na luta contra a corrupção se procure o diálogo em vez da crispação. Não tenciona aliar-se com partido nenhum antes das eleições, mas depois dos resultados procurará acordos à esquerda.
Os nacionalismos em defesa dos seus próprios interesses

Partidos nacionalistas têm agendas muito próprias e põem em primeiro lugar os seus interesses e o da sua região. É o caso dos independentistas catalães, por exemplo, em que um dos rostos mais proeminentes tem sido, ultimamente, o presidente da Generalitat, Quim Torra.
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Os partidos nacionalistas Em Marea (galegos) PNV (bascos), EH Bildu (bascos), CCa (canários), Compromís (valencianos), ERC (catalães) e PDeCAT (catalães) podem ser decisivos para a formação de um governo de esquerda em Espanha, tal como foram na aprovação da moção de censura de Sánchez contra Mariano Rajoy.
O PNV, considerado um partido mais à direita, tem sido sempre decisivo para pôr e tirar governos do poder, tanto do PP como do PSOE.
O Foro Asturias, partido asturiano criado em 2011 pelo ex-ministro Francisco Álvarez Cascos, conta agora com um deputado no Parlamento. Situado no centro-direita, está disposto a chegar a acordos com partidos em função do programa. E a UPN de Navarra, com dois deputados atualmente, está em negociações com o PP para irem juntos às eleições de 28 de abril.
Todos os nacionalistas procuram, na verdade, defender os seus próprios interesses e os da sua região - como se viu na votação do Orçamento.
(texto publicado originalmente na edição impressa do DN de dia 2 de março)