Donald Trump usa Taiwan como arma para provocar Pequim

Primeiro atendeu a chamada da líder de Taiwan, depois atacou Pequim no Twitter e agora admite ignorar a política de uma só China. Analistas alertam para riscos e até falam em guerra.

Um é o seu único grande aliado político e fornecedor de armas, a outra é o seu maior parceiro comercial. Talvez por isso a tensão crescente entre os Estados Unidos - mais exatamente o seu presidente eleito, Donald Trump - e a República Popular da China esteja a deixar muita gente nervosa em Taiwan. "Parece que na mente de Donald Trump Taiwan é uma ferramenta útil para provocar o nervo mais sensível" de Pequim, explicou à Reuters Alexander Huang, presidente do Conselho de Estudos Estratégicos e de Jogos de Guerra e antigo deputado taiwanês.

No domingo, numa entrevista à FOX News, Trump garantiu compreender "totalmente a política de uma só China", seguida pelos Estados Unidos desde 1979, quando o presidente Jimmy Carter reconheceu a República Popular da China , admitindo Taiwan como sua parte integrante. Mas "não percebo porque temos de obedecer à política de uma só China a não ser que façamos um acordo com a China que tenha a ver com outras coisas, entre as quais o comércio", afirmou Trump.

Depois de no dia 2 ter atendido um telefonema de Tsai Ing-wen, a presidente de Taiwan, gerando um protesto imediato de Pequim, Trump deitou mais achas para a fogueira através do Twitter, acusando Pequim de usar a desvalorização da moeda para fazer concorrência desleal, de taxar excessivamente os produtos americanos e de estar a construir um vasto complexo militar no Mar do Sul da China. Perante estas e somando-lhe as últimas declarações de Trump à FOX, Pequim reafirmou-se "preocupada". O único momento de alívio na tensão dos últimos dias entre EUA e China foi a nomeação de Terry Branstad para embaixador em Pequim. O governador do Iowa conhece o presidente chinês Xi Jinping desde 1985 quando este, então um jovem líder regional do PC Chinês, liderou uma delegação agrícola de visita ao Iowa. Branstad retribuiu a visita em 2011. E quando o seu nome foi anunciado como embaixador, Pequim saudou a escolha de "um amigo da China".

Sinal do clima de desavença foram os exercícios militares do fim de semana, com aviões militares chineses a voarem em torno de Taiwan. "Isto é atacar com palavras e assustar com armas", afirmou o ministro da Defesa taiwanês, Feng Shih-kuan, admitindo que Pequim intensifique os exercícios em breve.

Nos EUA, analistas alertam para o perigo que a atitude de desafio de Trump perante Pequim pode vir a ter. Se a futura Administração americana persistir na sua indiferença descuidada [em relação ao respeito pela política de uma só China], corre o risco de desestabilizar as relações entre os EUA e a China, e arrisca-se mesmo a causar uma guerra", explica no Washington Post Steven Goldstein, diretor do Workshop de Estudos Taiwaneses em Harvard e autor do livro China e Taiwan.

Enquanto desafia a China, a nível interno Trump está envolto noutra polémica, desta vez com a CIA. O presidente eleito descartou como "teorias da conspiração" as suspeitas confirmadas pela agência secreta de que hackers russos manipularam os resultados das eleições. O presidente Barack Obama ordenou uma investigação à pirataria contra o Partido Democrático durante a campanha. Um pedido apoiado por líderes republicanos, como o senador John McCain ou Mitch McConnell, líder da maioria no Senado.

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