Dilma substitui ministro por pressão de Lula e do PT

Prisão do publicitário João Santana e suspeitas sobre Lula levam à saída do titular da Justiça e braço direito da presidente

José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça e um dos membros do governo mais próximos de Dilma Rousseff, deixou o cargo por pressão do ex-presidente Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores (PT). Em causa a apatia do governante perante a operação Lava-Jato, que ao investigar o escândalo de corrupção conhecido como petrolão, por envolver a estatal Petrobras, vem atingindo a cúpula do PT, o próprio antecessor de Dilma e o publicitário João Santana. O novo titular da pasta, Lima e Silva, é um protegido do ministro da Casa Civil Jaques Wagner, barão petista e homem de confiança de Lula. Os investigadores da Lava-Jato - e a oposição - temem que a mudança ameace a operação.

"Está claro que o ministro foi substituído por causa de pressões políticas para que controlasse os nossos trabalhos", reagiu em nota a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (PF). Aloysio Nunes Ferreira, candidato a vice-presidente de Aécio Neves nas eleições de 2014 e senador do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), maior partido da oposição, concordou com a polícia. "Cardozo é uma vítima do PT, queriam que ele se comportasse como o capitão do mato deles", afirmou. O próprio Aécio disse que o país "não vai aceitar qualquer interferência na autonomia da PF de cerceamento das instituições".

Em rigor, a Constituição do Brasil não define se a relação entre o ministro da Justiça e a PF é de autonomia ou de subordinação. Segundo o seu próprio regime, a PF é um órgão "com autonomia orçamental, administrativa e financeira diretamente subordinado ao ministro da Justiça".

No entendimento de Cardozo, a polícia devia agir de forma independente do poder político, como o próprio foi sublinhando publicamente sempre que o PT exigiu que interviesse. "Sou contrário a qualquer intervenção externa ou política, a PF age de maneira independente." Segundo relato dos bastidores da decisão n"O Estado de S. Paulo, Cardozo chegou mesmo a desabafar que não entendia o que o PT queria que ele fizesse, à saída de uma reunião com dez membros do partido logo após a prisão de Santana, em que foi pressionado a agir. "Não vê que Lula pode ser preso?", perguntou, segundo o jornal, um deputado petista. "É um abuso da PF atrás do outro e você não faz nada?", acrescentou outro.

Santana, poderoso no partido e no governo, fora detido por supostas irregularidades na cobrança dos seus serviços, pagos pela construtora Odebrecht, em campanhas eleitorais do PT; Lula vem sendo investigado por tráfico de influência internacional a favor da mesma empreiteira, por ter aprovado uma medida que perdoa dívidas fiscais de grandes empresas e ter beneficiado de obras em casas de férias de que usufrui, alegadamente pagas por construtoras envolvidas no petrolão.

Por causa das pressões partidárias, Cardozo já havia pedido para deixar o governo, mas fora sempre convencido a continuar por Dilma, que o vê como um braço direito. "A queda dele mostra que a presidente não tem mais força para contrariar o próprio partido", resumiu o colunista do jornal Folha de S. Paulo Bernardo Mello Franco. "Enquanto a Lava-Jato atingia líderes caídos, como José Dirceu e João Vaccari, Dilma conseguiu segurar o ministro na cadeira. O jogo virou quando a investigação bateu à porta de Lula."

São Paulo

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