Clube só para homens encerra após acusações de assédio em jantar de solidariedade

O 'Presidents Club', que há três décadas reunia algumas das figuras masculinas de maior relevo da sociedade londrina, está no centro de um escândalo sexual divulgado por uma jornalista infiltrada do Financial Times

O jantar de angariação de fundos do Presidents Club, um exclusivo clube masculino que juntava figuras de relevo da alta finança, política, indústria e celebridades britânicas, foi sempre considerado um dos grande eventos da noite londrina dos últimos 33 anos. Pouco se sabia sobre o que lá se passava, já que se tratava de um jantar apenas para membros do clube, mas as somas angariadas para hospitais ou outras instituições de solidariedade social eram sempre elevadas e garantiam que não eram feitas perguntas aos envolvidos.

Até à passada terça-feira, dia em que mais um dos jantares se realizou no hotel Dorchester e uma jornalista do Financial Times se infiltrou entre as 130 hospedeiras contratadas para assegurar a realização do evento. Os requisitos para a contratação das mulheres, a quem eram prometidas 150 libras por trabalhar uma noite (cerca de 170 euros), franziram sobrolhos: tinham de levar sapato de salto alto preto e lingerie preta, para condizer com os vestidos que lhes seriam entregues na noite do evento. Outras características pedidas: mulheres "altas, magras e bonitas".

Entre os 360 homens que estiveram presentes no evento contam-se por exemplo Nadhim Zahawi, secretário de Estado para as crianças e famílias do governo britânico, ou David Meller, empresário com assento no Departamento da Educação, que era um dos presidentes do clube masculino. Meller demitiu-se entretanto das funções ao nível da Educação.

As mulheres que participaram garantem que sofreram ao longo da noite várias tentativas de assédio: a repórter Madison Marriage diz ter sido apalpada repetidamente e outras mulheres foram convidadas pelos presentes a juntarem-se a eles mais tarde em quartos do hotel. Uma assegura que um dos homens lhe mostrou o pénis e a maioria admitiu que passou a noite a debater-se com os constantes avanços dos convidados, que não tinham problemas em meter-lhes as mãos por baixo dos vestidos.

Dois dias antes do jantar, as hospedeiras foram informadas de que os telefones que levassem seriam "trancados em segurança", que os companheiros não eram bem-vindos no local e tiveram ainda de assinar acordos de confidencialidade.

No jantar de angariação de fundos foram a leilão, por exemplo, um chá com o governador do Banco de Inglaterra - que já veio distanciar-se do evento dizendo que não tinha conhecimento - mas também um vale para cirurgia plástica, acompanhado pela frase: "Apimenta a tua mulher".

Várias personalidades britânicas já vieram a público condenar o evento, nomeadamente empresárias e deputadas: Yvette Cooper, deputada trabalhista, questionou: "É isto que os homens pedem para doar dinheiro para causas sociais? Absolutamente pavoroso e vergonhoso".

As instituições que seriam beneficiadas com os fundos angariados devolveram as verbas: o hospital pediátrico Great Ormond Street, que entre 2009 e 2016 recebeu mais de meio milhão de euros do Presidents Club, vai devolver o dinheiro, tal como o Evelina London Hospital, também para crianças, cujos representantes já revelaram que vão recusar as 400 mil libras (cerca de 450 mil euros) prometidas pelo magnata da restauração Richard Caring, que esteve no jantar e cujo nome seria atribuído a uma ala da unidade hospitalar.

Na tarde de quarta-feira, os administradores do Presidents Club divulgaram um comunicado para dizer que não irão voltar a realizar eventos de angariação de fundos e que o dinheiro que sobrou será distribuído "de forma eficiente" por associações de apoio a crianças. Distribuídas as verbas, o clube será encerrado, informava a mesma nota.

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