Carlos Ghosn: "Se quer uma fuga para ter sucesso, tem de ser rápido e surpreendente"
De acordo com o Estadão, a fuga de Carlos Ghosn ex-presidente da Renault-Nissan, caído em desgraça em 2018 e a contas com a justiça japonesa, terá envolvido jatos alugados a uma empresa turca, especialistas em segurança e até uma caixa de instrumento musical como esconderijo.
O antigo poderoso executivo, que fugiu do Japão a 29 de dezembro de 2019 rumo ao Líbano, onde tem casa e investimentos e não corre o risco de ser extraditado, contou em entrevista ao Estado de São Paulo que a fuga foi preparada num mês. "Decisão rápida, organização e execução rápida", disse, confessando que a perspetiva de mais quatro naquele país, onde viveu duas décadas, sem autorização para ver a mulher e tendo que enfrentar dois julgamentos, foi o que o levou a agir.
"Os japoneses não são rápidos. Eles precisam de muito planeamento, preparação e conhecimento, mas, logo que entendem tudo. Agem rapidamente," disse Ghosn, que tem nacionalidade francesa, libanesa e brasileira, na entrevista, publicada neste sábado, 11 de janeiro, no Brasil.
"Se quer uma fuga para ter sucesso, tem de ser rápido e surpreendente. Tem de planear e executar muito rapidamente. O que foi feito", acrescentou o ex-presidente da Renault-Nissan, que lamentou a falta de apoio do Governo brasileiro e do Presidente, Jair Bolsonaro, na abertura do do processo no Japão na sequência do qual está a ser investigado por supostas irregularidades financeiras cometidas no país asiático.
Ghosn contava com a solidariedade de Bolsonaro, que, quando o escândalo rebentou, chegou a ligar à sua irmã a prestar conforto e apoio. Segundo o gestor, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, terá, no entanto, pressionado Bolsonaro e convencido o Presidente do Brasil a adotar uma posição neutra, para não incomodar os japoneses.
"É uma pena, sou brasileiro e o brasileiro, na frente dos japoneses, não conta muito", lamentou.
Ghosn reiterou na entrevista que é inocente e foi vítima de um "complô" do Japão, com a cumplicidade da subsidiária brasileira da Nissan, que ele acredita que colaborou com a casa-mãe e ajudou nas investigações, inclusive ao entrar em sua casa e ao retirar-lhe documentos. Questionado sobre o facto de ter usado o Palácio de Versalhes para a festa de aniversário da mulher, dá uma explicação atabalhoada, enquanto que sobre o alegado favorecimento da irmã, que contratou para ajudar à instalação de uma fábrica da Nissan no Rio de Janeiro, afirma ter informado por duas vezes a casa-mãe. "Você sabe, quando tem um problema desse tipo, todo o mundo desaparece. De repente, não tem mais testemunhas".
Mas se não admite as acusações de que é alvo e que o levaram à demissão e à justiça, reconhece ter cometido muitos erros. "O mais importante foi a nomeação de pessoas que realmente não eram honestas", disse.
O ex-presidente da Renault-Nissan, de 65 anos, está atualmente em Beirute, no Líbano, onde chegou na noite de Ano Novo, depois de fugir do Japão. Não pensa voltar ao ramo automóvel e diz que vai dedicar-se aos investimentos que tem neste país do Médio Oriente.
O Líbano e o Japão não têm um tratado de extradição, portanto a possibilidade ser preso é pouco provável, mas o Ministério Público libanês, que está a investigar Ghosn num caso ligado aos seus interesses nacionais, proibiu-o de sair do país.