Mundo
27 fevereiro 2019 às 15h48

Campo de tiro usa imagem de "noiva" do Daesh como alvo

Empresa justifica que foram os clientes que pediram para usar fotografia de Shamima Begum. Donald Trump e Margaret Thatcher são outros dos alvos.

DN

Um campo de tiro em Wirral, no Reino Unido, está a usar a imagem de Shamima Begum, a adolescente que abandonou o Reino Unido aos 15 anos para se juntar ao Estado Islâmico, na Síria, dizendo que colocou a imagem da jovem porque recebeu vários pedidos de clientes.

O Ultimate Airsoft Range é frequentado por crianças a partir dos 6 anos e tem na sua lista de alvos figuras como Donald Trump ou Margaret Thatcher.

Reagindo às críticas, o campo de tiros justificou a decisão de incluir Begum na lista. "Os alvos nem sempre refletem opiniões pessoais e não queremos tolerar o terrorismo. Mas depois de ver Shamima Begum ser entrevistada, sentimos que ela demonstrou falta de empatia e decidimos ouvir os nossos clientes e usá-la como alvo ", justificou a empresa.

A magistrada do Ministério Público de Wallasey Angela Eagle disse, no entanto, que "é errado usar pessoas reais como alvos, pois pode ser mal interpretado, desaprovo o tiro [tendo como alvos] pessoas que existem", disse a responsável ao Liverpool Echo, citado pelo The Guardian.

Um porta-voz do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha manifestou a sua preocupação e deixou um alerta.

"Numa sociedade onde o ódio e a violência contra os muçulmanos, particularmente contra as mulheres muçulmanas, é mais prevalecente e crescente, é profundamente preocupante que as pessoas peçam a imagem de uma pessoa real [para usar] como alvo de tiro, especialmente na presença de crianças pequenas."

O porta-voz disse estar preocupado que "esse sentimento [sirva} para alimentar a desumanização das mulheres muçulmanas ou levar ao incitamento à violência" em relação a quem por acaso se pareça ou se vista como Shamima Begum.

Shamima Begum tinha 15 anos quando, em 2015, desapareceu de casa, na zona de Bethnal Green, em Londres, para se juntar ao Estado Islâmico. Agora, quatro anos depois, sozinha, após o marido, um holandês que também se aliou ao grupo terrorista sunita, ter sido preso, pediu ao Reino Unido que a aceitasse de volta. Não porque esteja arrependida do que fez, mas porque quer dar um futuro melhor ao terceiro filho, recém-nascido. Os outros dois que teve morreram quando ainda eram bebés.

Segundo o advogado da família da jovem, Mohammed T Ankujee, Shamima Begum já deu à luz um rapaz, num campo na Síria. Ela e a criança estão bem de saúde.