Bill Clinton vai votar duas vezes em Hillary e não é fraude

Além de ir às urnas dia 8, ex-presidente é um dos nomes inscritos para votar em nome do estado de Nova Iorque no Colégio Eleitoral.

Na próxima terça-feira, os americanos vão às urnas escolher o novo presidente. Mas na prática, só em meados de dezembro será oficialmente designado o sucessor de Barack Obama. Tudo porque o voto nos EUA é indireto. Cada um dos 50 estados vale um certo número de votos num Colégio Eleitoral. O candidato que conquistar 270 dos 538 grandes eleitores, vence. Estes reúnem-se a 12 de dezembro e entre eles deverá estar o ex-presidente Bill Clinton, como um dos representantes do estado de Nova Iorque.

O nome do marido de Hillary Clinton consta da lista de grandes eleitores entregue pelos partidos junto da Comissão Eleitoral de Nova Iorque. A Constituição americana pouco diz sobre quem pode desemprenhar o papel de grande eleitor, referindo apenas que "nenhum senador ou representante, ou qualquer pessoa que tenha dos EUA um cargo de confiança ou remunerado poderá ser nomeado eleitor". Na prática, cada estado tem um sistema próprio de nomeação dos grandes eleitores, muitas vezes escolhidos como agradecimento pelos serviços prestados ao candidato ou ao partido. Foi o site Politico que chamou a atenção para a presença do nome de Bill Clinton na lista dos possíveis representantes de Nova Iorque no Colégio Eleitoral.

Relativamente discreto na campanha, o ex-presidente emocionou-se no discurso que fez na convenção democrata de julho quando recordou o dia de 1971 em que conheceu "uma rapariga" na universidade de Harvard e como construíram uma vida juntos, tiveram uma filha e dois netos. Em vários comícios desde então tem destacado a competência da ex-primeira dama. Mas as infidelidades e os alegados ataques sexuais de Bill têm dado munições à campanha do republicano Donald Trump contra Hillary.

Se a mulher derrotar o rival no dia 8 , o ex-presidente terá oportunidade de votar uma segunda vez em Hillary. E sem dar motivos ao milionário para denunciar uma "fraude" - ameaça que tem feito de forma recorrente.

Voltando ao Colégio Eleitoral: este é composto por 538 grandes eleitores. Cada estado recebe um número de votos equivalente ao número de representantes que tem no Congresso. Ali cada estado tem direito a dois senadores, independentemente do seu peso demográfico, aos quais se somam um número de representantes na Câmara determinado em função da população de cada um. Dando um exemplo: a Califórnia é o estado com mais grandes eleitores - 55 - equivalente aos seus dois senadores, a que se somam 53 representantes na Câmara. Os estados menos populosos, como Montana, Alasca ou os Dacotas têm só três votos no Colégio Eleitoral. Distrito de Columbia, onde fica a capital federal Washington, tem direito a três representantes.

Assim, o que os eleitores americanos estarão a fazer na terça-feira, quando votarem no candidato à Casa Branca é, na verdade, a escolher os grandes eleitores do partido correspondente. Se Hillary vencer na Califórnia, como é previsível, os 55 votos do estado no Colégio Eleitoral irão para ela. Em 48 dos 50 estados, este é o sistema usado - o vencedor recebe todos os votos. As exceções são Maine e Nebrasca, onde o sistema inclui uma dose de proporcionalidade.

A 12 de dezembro, os grandes eleitores reúnem-se na capital do respetivo estado e votam diretamente para o presidente. Nunca se reúnem os 538. A contagem dos votos, essa, só acontece 15 dias depois, no Senado, em Washington.

Tradicionalmente os grandes eleitores votam no candidato que venceu o seu estado e há mesmo 24 estados com leis que os obrigam a isso. Nos restantes casos, é uma questão de lealdade e na História são raros os casos de traição. Mesmo assim, nos 240 anos de História dos EUA houve 157 eleitores "infiéis", como são designados. Em 1836, 23 grandes eleitores da Virgínia recusaram votar no democrata Richard M. Johnson depois de saberem que teria vivido com uma negra. Mas costumam ser atos isolados, como quando em 1960, o republicano do Oklahoma Henry D. Irwin recusou votar em Richard Nixon por "não o suportar". Mais recentemente, em 2004, um grande eleitor democrata do Minnesota não deu o voto para presidente a John Kerry mas sim a John Edwards, o candidato a vice democrata.

O respeito pelo sentido de voto do estado confirmou-se mesmo numa eleições tão contestadas como as de 2000, quando o republicano George W. Bush chegou à presidência graças aos 29 votos no Colégio Eleitoral da Florida (estado que lhe foi atribuído após 37 dias de contagens e recontagens e por apenas e por 537 votos populares). Isto apesar de o democrata Al Gore ter tido mais meio milhão de votos populares na soma nacional.

Ao longo dos anos, alguns estados, por votarem de forma consistente nos republicanos ou nos democratas, acabaram por perder interesse para os candidatos. Estes centram as campanhas nos chamados swing states, os que oscilam entre direita e esquerda, acabando por definir quem vence.

Complexo e difícil de compreender, o sistema eleitoral americano tem sido alvo de críticas. Nos últimos anos, as sondagens mostram que a maioria gostaria de ver o Colégio Eleitoral substituído, independentemente da sua orientação política. No último estudo da Gallup, de 2013, 61% dos republicanos defenderam o seu fim. Uma opinião partilhada por 63% dos independentes e 66% dos democratas.

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