Bento XVI: um papa derrotado pelas conspirações

Pré-publicação do capítulo sobre o atual papa emérito do livro "A História Secreta do Vaticano", de Javier García Blanco

Num momento em que uma violenta crise fustiga o Vaticano, chega a Portugal o livro A História Secreta do Vaticano, pela mão da Matéria-Prima Edições. Numa viagem pela história dos pontificados desde Pedro, o jornalista, fotógrafo e escritor espanhol, Javier García Blanco, desvela o mundo de "crimes, perversões e polémicas ocultas dos Papas da Igreja de Roma", em que a história dos papas cruza-se com a do mundo num livro polémico, resultado de uma sólida investigação histórica.

O DN apresenta em pré-publicação o capítulo sobre o atual papa emérito, que ajuda também a compreender o atual quadro político e religioso do ambiente que se vive na Santa Sé.

Bento XVI: um papa derrotado pelas conspirações

Pelas 17h50 do dia 19 de abril de 2005, avistou-se o fumo branco que anunciava ao mundo a eleição do novo pontífice. Os cento e quinze cardeais que participavam no conclave haviam decidido ao fim de quatro votações.

Alguns minutos depois, o protodiácono chileno Jorge Arturo Medina confirmava a notícia que já todos conheciam: «Habemus papam». O escolhido foi o cardeal Joseph Ratzinger, que adotou o nome de Bento XVI. A sua eleição foi, em certa medida, uma surpresa, precisamente porque era demasiado previsível e constituiu, sem dúvida, um golpe para os setores mais progressistas e reformistas, que depositavam alguma esperança na eleição de um papa que retomasse o espírito reformador do Concílio Vaticano II, abandonado por João Paulo II.

Joseph Ratzinger nasceu a 16 de abril de 1927 em Marktl am Inn, uma pequena localidade da Baviera (Alemanha). Foi criado numa humilde família de camponeses, católicos fervorosos, e a sua vocação religiosa surgiu quando era ainda muito jovem. Tinha apenas cinco anos, quando a visita à sua aldeia do cardeal Faulhaber, arcebispo de Munique, lhe causou uma impressão indelével, de tal modo que chegou a casa e disse a seu pai: «Quero ser cardeal.» Aquele encontro marcou o início de uma vocação que o elevaria ao topo da hierarquia católica. Anos mais tarde, acompanhado de seu irmão, entrou no internato fundado pelo mesmo cardeal, que também os ordenou em 1951. Alguns anos antes, durante a Segunda Guerra Mundial, Joseph tinha pertencido à Juventude Hitleriana, um detalhe do seu passado que os jornais sensacionalistas, particularmente os britânicos, usaram para atacar o recém-nomeado papa. De qualquer forma, o argumento era frágil, já que naquele período negro da história alemã era obrigatório pertencer àquela organização, e nem todos os membros da mesma apoiavam a ideologia nazi.

O jovem Ratzinger prosseguiu os seus estudos de teologia, e tornou-se professor nas prestigiadas universidades de Münster, Bona e Tubinga. Pouco tempo depois, em 1962, mudou-se para Roma para participar no Concílio Vaticano II. Curiosamente, a orientação do jovem Ratzinger no concílio era próxima da linha mais progressista.

Por fim, em 1977, foi nomeado cardeal e arcebispo de Munique pelo papa Paulo VI, e pouco depois as suas conceções sofreram uma mudança radical, que se acentuou nos anos seguintes. Como João Paulo II no Vaticano, o cardeal Ratzinger tornou-se um defensor de posições mais conservadoras, na linha do próprio papa Wojtyla.

Foi precisamente durante o período em que era arcebispo de Munique que Ratzinger dirigiu uma campanha persecutória contra os teólogos Baptist Metz e Hans Küng. Este foi castigado com a proibição de dar aulas de teologia depois de ter escrito um artigo que era muito crítico para com João Paulo II, em 1979.

No proémio da década de 1980, o papa ofereceu-lhe o cargo de prefeito para a Congregação para a Doutrina da Fé, o vetusto e temido Santo Ofício.

Como já foi referido anteriormente a propósito do lado negro de Wojtyla, foi Ratzinger quem elaborou o documento que condenou a Teologia da Libertação e os seus proponentes, como Leonardo Boff. O mesmo destino tocou a todos os que ousaram apartar-se do caminho de retidão definido pelo Vaticano de João Paulo II. E assim foi até ao mês de abril de 2005, quando o cardeal de ferro, defensor da doutrina, se tornou finalmente o primeiro papa do terceiro milénio: Bento XVI.

Um ninho de corvos e falcões

O ano de 2012 não podia começar pior para a Santa Sé. Em janeiro, um programa da televisão italiana dava a conhecer o conteúdo, altamente secreto, de vários documentos que nunca deveriam ter saído das paredes do Vaticano. Mas saíram. E as consequências sentiram-se - e de que maneira - nas mais altas hierarquias do pequeno Estado. Algo que é compreensível se tivermos em conta que os papéis divulgados incluíam questões tão delicadas e pouco santas como diversas atividades criminais, incluindo o branqueamento de capitais, corrupção, abuso de poder e nepotismo.

Uma autêntica bomba mediática cuja onda expansiva se propagou ainda mais quando, no início de fevereiro desse mesmo ano, os diários italianos fizeram eco de outros documentos, provindos do Vaticano, onde se comentavam guerras entre cardeais e, o que é mais grave, uma hipotética tentativa de assassinar Ratzinger. Não é difícil imaginar que essas revelações se traduziram numa atividade frenética em determinados organismos da Santa Sé. Com os títulos a ocupar os jornais, e as notícias nas bocas do mundo, os corredores e os escritórios dos palácios vaticanos converteram-se num turbilhão de funcionários e de altos cargos. Mas também, como definiram alguns meios de comunicação italianos, «num ninho de víboras cheio de veneno».

De facto, um vislumbre célere sobre as informações provenientes do coração da cristandade chega para perceber que alguns cardeais estavam decididos a praticar um rude jogo de poder ao melhor estilo renascentista, uma época em que famílias como a dos Orsini, os Colonna ou os Bórgia empregavam literalmente todas as armas ao seu alcance para atingir os seus objetivos.

Um terramoto em São Pedro

O navio de São Pedro navegava por águas agitadas desde 25 de janeiro de 2012. Na tarde desse dia, um programa do canal La 7 - uma cadeia de televisão privada - deu a conhecer várias cartas do cardeal Carlo Maria Viganò dirigidas ao secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, e ao próprio papa.

Nelas, Viganò - então secretário do Governo do Vaticano - pedia (ou melhor, implorava) para se manter no seu posto a fim de poder «combater a corrupção e o abuso de poder» que, segundo ele, haviam assentado arraiais em certos estratos das altas esferas. Além disso, Viganò mencionava também atos de má gestão, amiguismos e adjudicações de contratos a certas empresas com preços empolados.

Uma das missivas, dirigida expressamente a Bento XVI, revelava o seu interesse em denunciar os desmandos, assim como as acusações que lhe atribuíam de «criar um clima negativo no Governo» e que lhe tinham valido uma promoção a núncio apostólico em Washington. Isto é, nomeavam-no embaixador nos Estados Unidos para o afastarem do Vaticano. As súplicas de Viganò de nada serviram, nem a menção a seu irmão - também sacerdote - que se encontrava muito doente em consequência de um acidente vascular cerebral e que era cuidado pelo próprio cardeal. Carlo Maria Viganò viajou para Washington para cumprir o seu lugar de núncio até à sua reforma em abril de 2016. Noutras circunstâncias, aquele cargo teria significado uma promoção, mas, tendo em conta as revelações, parece ter sido antes um corretivo.

Como era expectável, a emissão do programa de televisão fomentou uma enorme polémica, assim como um autêntico terremoto nos escritórios dos palácios vaticanos. Um sismo político-religioso que teve réplicas.

Apenas uns dias depois, um periódico de tiragem modesta, Il Fatto Quotidiano, publicava em exclusivo um novo acervo de documentos confidenciais. Os documentos mencionavam um enorme confronto intestino na Igreja, relacionado com as linhas orientadoras para o IOR, o Instituto para as Obras da Religião, o nome do banco do Vaticano.

De acordo com estes documentos, a cúria encontrava-se dividida em relação à transparência do IOR perante a justiça italiana e as autoridades financeiras europeias, e se era desejável permitir o acesso à informação sensível relacionada com a época mais negra da instituição. A discussão não era transcendente, pois o IOR enfrentaria nesse ano uma auditoria sobre a sua competência financeira.

O terceiro bloco de documentos revelados era ainda mais polémico que os anteriores. A 10 de fevereiro, Il Fatto Quotidiano publicava outra carta confidencial, desta vez escrita em alemão, que o cardeal colombiano Darío Castrillón Hoyos enviara ao pontífice.

Nessa carta detalhavam-se as declarações que, presumivelmente, teriam sido feitas por outro purpurado, o italiano Paolo Romeo, durante uma viagem à China em 2011, e que mencionavam dados que apontavam um possível atentado para matar o papa Bento XVI. E não só. De acordo com as afirmações de Romeo, o pontífice já estava a preparar a sua sucessão apontando um favorito, o cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão.

Como era expectável, a resposta a estas notícias não tardou. O jesuíta Federico Lombardi, diretor do gabinete de imprensa da Santa Sé, contestou as publicações assegurando que resultavam da ação de indivíduos mal-intencionados que apenas queriam criar «confusão e embaraços». Por outro lado, Lombardi não deixou de comparar o que ocorrera com os célebres vazamentos da Wikileaks, e cunhou mesmo um termo, Vatileaks, que não tardou a popularizar-se na imprensa italiana e internacional: «A administração americana teve a Wikileaks, e o Vaticano possui agora os seus leaks, que tendem a criar uma péssima imagem do Vaticano e do governo da Igreja.» O porta-voz referiu-se à revelação mais polémica, a do suposto plano para assassinar Bento XVI, como sendo totalmente falsa: «É um desvario delirante que não deve ser tomado a sério.»

O jornal oficial do Vaticano, L"Osservatore Romano, não se absteve de comentar a polémica e, num editorial, imputou o vazamento de documentos a «pessoas irresponsáveis e indignas». O texto do diário acrescentava ainda que «Bento XVI é um pastor doce que não retrocede perante os lobos», numa clara alusão aos causadores do escândalo.

Operações policiais no Vaticano

A Santa Sé começou a procurar a origem dos vazamentos documentais. A fonte encontrava-se no seio da Igreja, certamente, mas onde?

A 15 de fevereiro, o diário La Reppublica noticiava que a Gendarmeria vaticana, a polícia do papa, investigava - através de verdadeiras operações policiais - alguns gabinetes das mais altas administrações da Santa Sé. De acordo com o jornal, os agentes rastrearam o percurso dos documentos, identificando as pessoas que os difundiram. Desse modo, as cartas enviadas pelo cardeal Viganò a Sua Santidade e ao secretário de Estado Bertone foram entregues desde algum escritório da Segunda Secção da própria Secretaria de Estado, enquanto os documentos confidenciais relacionados com as atividades do IOR saíram dos arquivos da Primeira Secção da mesma administração.

Já não havia dúvidas de que se travava uma guerra sem quartel entre purpurados no seio da cúria. Uma confirmação dessas lutas, além do conteúdo dos documentos, relacionava-se com as datas em que o escândalo se propagara: na altura do primeiro encontro entre cardeais e os ministros do governo de Monti depois da saída de Berlusconi, coincidindo com o 83.º aniversário dos chamados Pactos de Latrão, nos quais se restabeleceu o caráter de Estado soberano à Cidade do Vaticano. Por outro lado, a 18 de fevereiro decorreu a Cerimónia do Consistório, uma reunião do Sacro Colégio na qual Bento XVI nomeou vinte e dois novos cardeais, dezoito dos quais com perfil de eleitor num futuro conclave.

O que havia de verdadeiro nos documentos divulgados?

Face aos dados conhecidos, a existência de lutas intestinas no seio de Roma parece certa, mas até que ponto as acusações disseminadas nos documentos são verdadeiras?

No que respeita ao caso Viganò, não se pode negar que a sua transferência para os EUA tenha sido motivada pelas suas declarações na cúpula vaticana. Relativamente às acusações que fez, e que estiveram na origem da sua queda em desgraça, seria necessária uma investigação mais profunda para determinar a sua veracidade. Em todo o caso, um tema é incontestável: a profunda inimizade entre Viganò e o secretário de Estado Bertone. Este parece o principal alvo dos vazamentos, já que foi acumulando inimigos ao longo dos anos. Outra questão desvelada pelos Vatileaks, a existência de um confronto entre cardeais e outros altos dignitários da Igreja, responde-se a ela própria: a mera existência de leaks é prova suficiente da dita contenda.

No que concerne às acusações contra o IOR, o banco do Vaticano, as incertezas são, também, residuais. Com efeito, Bento XVI e Tarcisio Bertone haviam iniciado uma mudança de imagem da instituição que, como já referimos anteriormente, era pouco estimada aos olhos do público. De facto, a própria Secretaria de Estado, dirigida por Bertone até 2013, insistia que já não «restava nada, nem sequer um empregado» do IOR que servira de inspiração à terceira parte de O Padrinho de Francis Ford Coppola.

Nada obstante, nem todos partilhavam este ponto de vista. O cardeal Attilio Nicora, então presidente da Autoridade de Informação Financeira - encarregada de vigiar as atividades monetárias e comerciais das distintas agências da Santa Sé -, denunciou certa fação no Vaticano que procurava ocultar informações sobre o branqueamento de capitais e outras operações suspeitas. De facto, apenas dois anos antes, em setembro de 2010, o escândalo chegara aos escaparates da imprensa depois de se saber que o então diretor do IOR, Ettore Gotti Tedeschi (1), tinha sido constituído arguido no decorrer de uma investigação da Procuradoria de Roma por suspeita de branqueamento de capitais (em concreto, vinte e três milhões de euros) utilizando os recursos do banco vaticano (2).

Todos os indícios apontavam para uma profunda divisão interna no seio do IOR, e por extensão no Vaticano, relativamente às medidas a tomar a respeito do banco de Deus. Um grupo pretendia acabar com a imagem do Estado Vaticano como paraíso fiscal, enquanto uma fação opositora lutava por manter o status quo.

O IOR entraria, ou não, na lista de entidades financeiras que cumprem a certificação europeia em matéria de dinheiro limpo e de transparência, de acordo com o grupo vencedor desta peleja financeira-religiosa. E, na verdade, o Instituto não cumpre, ainda hoje, os standards que se aplicam aos restantes países europeus. Esta situação poderia modificar-se depois de Ernst von Freyberg, em 2014, ter anunciado uma série de medidas destinadas a cumprir os requisitos de transparência económica requeridos por Moneyval (Committee of Experts on the Evaluation of Anti-Money Laundering Measures and the Financing of Terrorism). O banco da Igreja deixaria de ser, por fim, o maior paraíso fiscal do mundo: «uma pequena Suíça no coração de Roma».

O roubo dos documentos

Dentre todos os documentos vazados nos meios de comunicação no proémio de 2012, sem dúvida o mais polémico e sensacional era aquele que envolvia os cardeais Darío Castrillón e Paolo Romeo numa presumível conspiração para atentar contra a vida de Bento XVI.

Ainda que Romeo tenha negado ter feito qualquer referência a isso, e o próprio porta-voz do Vaticano ter qualificado a afirmação de desvario delirante, a carta é real e manifesta uma intenção de prejudicar a imagem de todos os implicados. Parece pouco provável que tivesse existido uma trama para assassinar Bento XVI, mas, como já vimos anteriormente, os exemplos do passado abundam, como as tentativas de eliminar João Paulo II. Contudo, a luta pelo poder no pequeno, mas poderoso, Estado que perdura há séculos no coração de Roma parecia evidente.

Uma luta tão desapiedada que chegou ao extremo de atacar diretamente cardeais, bispos e outros altos dignitários da Igreja de Roma, não importando que o escândalo atingisse uma boa parte da hierarquia da Igreja, e divulgando documentos com a manifesta intenção de causar danos em setores concretos da Igreja.

O destino de São Pedro decidia-se, de acordo com a luminosa metáfora utilizada numa grande reportagem publicada na revista italiana L"Espresso (3), no interior de um ninho onde «corvos, corujas, falcões e pombas» lutavam sem piedade. E assim foi.

Alguns meses após a divulgação dos documentos, em maio de 2012, começou-se a desconfiar que o autor da mesma tinha sido um leigo, Paolo Gabrielle, conhecido nos círculos vaticanos como Paoletto, um dos camareiros de Bento XVI (4). Como num policial medíocre, o culpado era o mordomo. Gabrielle era um dos poucos laicos encarregados de atender às necessidades do papa e, de acordo com as investigações realizadas pela polícia vaticana, foi ele quem roubou as cartas e os documentos de Bento XVI, tendo-os passado à imprensa. Embora as evidências parecessem irrefutáveis, muitas fontes duvidaram que Paoletto pudesse urdir aquela complexa operação de espionagem sozinho. Tudo parecia indicar que o mordomo papal era apenas um títere nas mãos de um setor da cúria desejoso de prejudicar o secretário de Estado Bertone e denunciar a corrupção no Vaticano, numa tentativa de posicionamento tático perante uma eventual sucessão de Bento XVI. Tal foi confirmado pelas chamadas anónimas feitas para diferentes meios de comunicação social que asseguravam que Paoletto não agira sozinho e que eram muitos os que desejavam denunciar a obscura teia de interesses e lutas intestinas no pequeno Estado pontifício.

A investigação do caso Paoletto foi rápida, e a justiça vaticana não tardou em julgá-lo. Durante o julgamento, realizado no mesmo ano de 2012, Paolo Gabrielle insistiu na sua inocência - reconheceu as suas ações, mas asseverou que tudo o que fez foi pelo bem da Igreja - e denunciou os maus-tratos que sofreu numa prisão vaticana. A sentença, para surpresa de todos, foi benévola: Paoletto foi condenado a um ano e meio de prisão por roubo de documentos privados de Bento XVI. Ainda que após o processo a Igreja tenha arquivado o caso Vatileaks, o assunto não se esgotou e os seus efeitos iam fazer-se notar em breve. E de que maneira.

Um caso inédito em séculos

Tudo parecia ter voltado ao normal nas águas revoltas perigosas do Vaticano, mas a aparente tranquilidade era apenas uma ilusão. No início de fevereiro de 2013, o papa Bento XVI fez um anúncio que deixou o mundo atónito: a 28 de fevereiro efetivaria a sua renúncia, deixando o trono papal vacante. As palavras de Ratzinger soaram rotundas na sala de imprensa vaticana:

Depois de ter examinado reiteradamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à conclusão de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério de Pedro.

A explicação oficial para abandonar o cargo - uma situação que não acontecia há já sete séculos - aludia ao frágil estado de saúde do pontífice e à sua falta de forças para exercer o cargo de forma apropriada, mas muitos ficaram com a impressão de que a renúncia radicava em justificações de índole política. A pressão das lutas intestinas no seio do reino de Pedro, com lobos, corvos e falcões a lutar pelo controlo da cúria, sem dúvida debilitaram e venceram o papa de origem alemã. A pergunta que se colocou então foi: quem sairá vitorioso do conclave de março? Os setores mais conservadores da cúria ou um grupo progressista, disposto a purificar o catolicismo e a extirpar os comportamentos pecaminosos que imperaram nos últimos anos?

A resposta chegou, clara e pungente, a 13 de março de 2013, quando, à quinta ronda de votações do segundo dia do conclave, os cardeais elegeram Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, como novo pontífice.

notas
(1) Tedeschi era o ex-presidente do Santander Consumer Bank, divisão italiana do Grupo Santander, cuja ligação à Opus Dei é bem conhecida.
(2) As suspeitas não eram novas. Além dos antecedentes conhecidos durante o escândalo que sacudiu o IOR em 1982, a banca vaticana sempre estivera sob suspeita. Em 2009, por exemplo, publicava-se o livro Vaticano S.A., do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, no qual se revelava, com base em documentos internos do próprio IOR, que a instituição lavava dinheiro para a máfia há muitos anos, além de facilitar a abertura de contas opacas a personalidades como Giulio Andreotti e outras figuras gradas da sociedade italiana.
(3) Damilano, Marco, «Corvi, gufi, falchi e colombe», L"Espresso, n.º 8, Ano LVII, 23 de fevereiro de 2012.
(4) El País, 27 de maio de 2012.

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